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2 de novembro de 2009

A bolha, por Luis Felipe Pondé

Coitadinho do Obama, a mídia está falando mal dele e tirando seu sono de Messias

PROMETI PARA mim mesmo que não ia falar sobre o ridículo prêmio Nobel dado ao Obama, mas como não tenho palavra mesmo e como nunca cumpro promessas (principalmente feitas a mim mesmo, alguém que, afinal de contas, não merece todo esse deferimento moral), estou eu aqui capitulando e falando desse populista chamado Obama.
Quando foi eleito, escrevi nesta coluna que ele era uma bolha que provavelmente não ia dar em nada. Posso estar enganado, como quase sempre estou (sou um péssimo profeta), mas, até agora, responda-me, caro leitor, a que veio ele? Deveria sim se candidatar a secretário-geral da Unicef e ficar visitando crianças famintas na África. Seus dias estarão contados quando os americanos descobrirem que seu verdadeiro sonho é ser o primeiro presidente negro da Noruega.
Recém-chegado de Israel, local marcado pela necessidade de paz, lá tive a oportunidade de acompanhar um pouco o que a mídia local sente diante desse ridículo Nobel da Paz dado a alguém que nada fez além de blablablá até agora. Obama só conseguiu fazer discursos por aí, deixando todo mundo com gosto de coito interrompido na boca.
No Egito, ele falou de como a cultura muçulmana foi importante para o mundo. Será que os egípcios nunca estudaram a Espanha medieval? Iraque e Afeganistão estão piorando nos últimos meses. Sua incapacidade em resolver o problema do Irã se assemelha à incompetência de Jimmy Carter no caso da captura da embaixada americana em Teerã. E olha que o Carter fez Camp David (acordo de paz entre Israel e Egito)! Coreia do Norte vai mal, obrigado. O que mudou de Bush pra cá? Os aeroportos americanos estão mais dóceis com os turistas?
Na minha humilde opinião de não especialista em paz mundial (entendo um pouco melhor sobre a guerra, porque a julgo um estado mais natural da condição humana), arriscaria dizer que os líderes da oposição iraniana mereciam mais esse prêmio, ou mesmo nosso querido Lula nos seus esforços de evitar males maiores causados pelo bobo venezuelano El Chavez e seus anões bolivarianos.
Ou quem sabe Tony Blair e Bush, no sucesso em evitar mais ataques terroristas no Ocidente. Ou então declarassem que ninguém merecia o prêmio Nobel da Paz este ano e "acumulassem" (assim como na Mega Sena) dois prêmios para o ano que vem. Quem sabe alguma tragédia inesperada os iluminaria na futura escolha.
O problema é que qualquer decisão tomada na Escandinávia sobre a dureza do mundo parece aconselhamento sexual dado por virgens que detestam sexo para prostitutas, essas nossas parceiras ancestrais. Que Deus as proteja. Quantas vidas solitárias elas já não salvaram?
O grande feito de Obama até agora foi criar uma imagem de si mesmo como a pessoa mais legal do mundo. Além de salvar o mundo em todo café da manhã, aposto que manda flores pra Michelle todo dia.
A impressão que tenho é que ele, antes de falar qualquer coisa, faz uma pesquisa sobre o que as pessoas que vivem de bolhas de esperança querem ouvir. Uma hora dessas vai declarar obrigatório a adoção de cachorros vira-latas pela comunidade internacional.
Sua realização até agora tem sido cultivar sua própria imagem. Algum assessor deveria avisá-lo que a campanha acabou e agora é a hora de acordar cedo e fazer a roda de rato girar, como todo desgraçado que trabalha e não só faz campanha.
Mas o fim da picada mesmo foi a perseguição à mídia e à Fox News. Coitadinho do Obama, a mídia está falando mal dele e tirando seu sono de Messias.
Veja, caro leitor, você se lembra (mesmo que não alimente qualquer simpatia pelo Bush) como a mídia detonou o Bush em seus últimos anos de Casa Branca? Até a Rádio Internacional da República da Banana fez um dossiê de como Bush foi o pior governante depois de Hitler.
Acho que mesmo sua mãe deve ter lamentado tê-lo dado de mamar. Alguém se lembra dele ter declarado a mídia "persona non grata" e buscado soluções tipicamente populistas, como se apresentar como vitima de complôs? E mais: não é só a mídia, mas os empresários também estão atrapalhando sua missão de salvar o mundo.
Você percebe a semelhança com El Chavez na sua atitude para com a Fox News? Claro que ele não pode mandar fechar a emissora como Chavez faz, mas pode difamá-la, tática comum em autoritários fingidos. Sua sorte é que ele é negro (afro-americano para os mais sensíveis), porque, se não fosse, já teria dançado. Como toda bolha, está vivendo de crédito.

ponde.folha@uol.com.br

ponde A volta das freiras feias, por Luis Felipe PondéLuis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Atuou como professor convidado nas universidades de Marburg (Alemanha) e de Sevilha (Espanha). Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião e do Departamento de Teologia da PUC- SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo e da Casa do Saber.
Autor, entre outros títulos, de "
O Homem Insuficiente", " Crítica e Profecia", " Filosofia da Religião em Dostoievski", " Conhecimento na Desgraça" e " Ensaios de Filosofia da Religião". É articulista da Folha de S. Paulo, com coluna semanal às segundas-feiras.

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26 de outubro de 2009

"Malone Morre", por Luiz Felipe Pondé

Muitos acham que Beckett serve só para teses complicadas; o pessimismo é quase uma ciência exata

NUM DESSES dias cinzentos, quando o mundo parece alimentar em você aquela certeza de que a lógica do pior é a lógica do mundo, tropecei na citação: "Antes de mais nada, quero dizer que não perdoo ninguém. Desejo a todos uma vida atroz nos fogos do gélido inferno e nas gerações execráveis que hão de vir". É Samuel Beckett em "Malone Morre".

Muita gente acha que a literatura de Beckett existe pra escrevermos teses complicadas sobre como a época em que ele viveu foi descrente porque só se pensava em ganhar dinheiro numa Europa que se afundava no capitalismo americano, pós-Segunda Guerra.

E aí passamos a xingar a burguesia e sua breguice famosa e vazia. Eu nunca xingo a burguesia porque temo que o faça por inveja. Eu acho que textos como esse servem para nos manter de olhos abertos para o risco de que o coração resvale na descrença absoluta acerca da vida fora da miséria que escorre pelos muros do mundo. O pessimismo é meu pecado capital.

O pessimismo é uma geometria do mundo, quase uma ciência exata. Não acredito que a questão de Beckett fosse apenas um desespero "político-social". Se assim fosse, ele seria um escritor menor. O desespero só merece respeito quando vai muito além do político-social e escurece o Sol.

Em meados dos anos 1990, quando vivia em Paris por conta do meu doutorado, encontrei-me um dia com o filósofo Alain Finkielkraut num daqueles "cafés-cabeça" do Boulevard Saint German. Ele se dizia um pessimista. Discutíamos a literatura e a tendência, já forte na época, de afogar as letras no desejo brega de felicidade que hoje em dia satura o ar com seu fedor.

Para ele e também para mim, era claro que grande parte da culpa disso era da esquerda e sua natural vocação para esperanças bobas, quando se afasta de autores mais pessimistas como Adorno. Sempre suspeitei que o pessimismo fosse um regulador de caráter. A esquerda sempre teve uma vocação para o terror, para o desbunde, para a incompetência ou para a preguiça.

Seu argumento era muito parecido com o do escritor tcheco Milan Kundera: um romance deve criar dúvidas sobre o mundo, deve gerar um surto de insegurança e não passar esperanças em si mesmo ou no mundo. Como diz Kundera, "a burrice das pessoas vem delas terem resposta pra tudo". Finkielkraut comparava então romances como "Madame Bovary" e "Educação Sentimental" (ambos de Flaubert) a romances que oferecem soluções para a vida.

Se Emma Bovary nos ensina que o desejo é um companheiro destrutivo, ao mesmo tempo nos pega pela mão e nos leva a uma vida insípida onde não há desejo e da qual ela foge.

O confronto entre as duas formas de vida, sem solução, é a força da personagem. Mesmo que Emma tenha se transformado, para muitos de nós, naquele arquétipo da mulher de 40 anos com uma taça de vinho branco nas mãos, com os seios já caídos, que aborda homens em lançamento de livros ou em exposições, falando como sua vida está aquém de sua alma, ou mesmo desvalorizando o parceiro que tem, a verdadeira Emma Bovary encarna o risco que é apostar no desejo.

Mas uma vida sem desejo não vale a pena ser vivida, por isso ela é uma grande heroína: sua grandeza mora ali onde mora sua maldição.

Que distância dessas bobagens que psicólogas de recursos humanos gostam de ler e recomendar para seus funcionários ou que estes conferencistas motivacionais e de liderança gostam de citar como exemplo de vida para suas plateias atordoadas pelo pânico da vida.

Por exemplo, o que dizer a uma mulher ou a um homem que vê sua energia se apagar diante do sorriso de alguém mais jovem, oferecido docemente ao seu parceiro ou sua parceira? Nesse momento, a insegurança sobe à boca, inundando-a de uma saliva azeda, mas com aquele insuportável sabor que a verdade tem.

A solução ridícula então vem aos olhos, e eles falam: "Posso eu competir com essa fisiologia fresca e bela?". E aí vem o socorro da má literatura. Mas, quando em casa, à noite, no espelho, você se olha, dificilmente conseguirá esconder o desejo de que ninguém jamais seja perdoado porque você é infeliz, e de que todos que nasceram depois de você sejam execráveis, pela simples razão que ainda têm mais vida. Talvez Finkielkraut, Kundera e Beckett sejam excessivamente duros conosco, mortais. Às vezes parece que a consciência que eles nos cobram é excessiva. Uma certa dose de inconsciência se faz necessária para enfrentar as horas.

ponde.folha@uol.com.br


ponde A volta das freiras feias, por Luis Felipe Pondé
Luis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Atuou como professor convidado nas universidades de Marburg (Alemanha) e de Sevilha (Espanha). Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião e do Departamento de Teologia da PUC- SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo e da Casa do Saber.
Autor, entre outros títulos, de " O Homem Insuficiente ", " Crítica e Profecia ", " Filosofia da Religião em Dostoievski", " Conhecimento na Desgraça " e " Ensaios de Filosofia da Religião". É articulista da Folha de S. Paulo, com coluna semanal às segundas-feiras.

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8 de outubro de 2008

Grandes descobertas sobre si mesmo e sobre a vida são comuns nos relatos dessas caminhadas. Uma teologia forte nasce aí: na pobreza do pó.

Às vezes, na insônia, como diria Elias Canetti, ouvimos os ruídos do corpo e sentimos a fragilidade da vida que nos escapa. Certa feita, o escritor israelense Amós Oz me disse, numa entrevista para a Folha, que tem o hábito de caminhar pelo deserto todas as manhãs. Esse hábito o ajuda a compreender melhor a condição humana.
Por quê? Amós Oz tem em mente a antiga tradição religiosa de caminhar pelo deserto a fim de percebermos do que somos feitos: pó e cinzas. Grandes descobertas sobre si mesmo e sobre a vida são comuns nos relatos dessas caminhadas. Uma teologia forte nasce aí: na pobreza do pó.

O Gosto do Pó, por Luís Felipe Pondé.

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O Gosto do Pó

por Luis Felipe Pondé *
publicado em 8/10/2008.

NÃO TENHO VOCAÇÃO para idealizar as coisas. Idealizar é pensar que o mundo é melhor do que parece. A idealização aumenta o já inevitável risco de fracassar na vida. Reconheço, caro leitor, que a incapacidade de idealizar pode se transformar numa doença mortal. O ceticismo, o cinismo, o niilismo, a melancolia, são formas possíveis dessa doença.
Muitos acreditam que sem utopias ou ideais a vida perde o sentido. Talvez tenham razão. Acho que não. Eu, desprovido de qualquer órgão para idealização, prefiro sempre a realidade à fantasia. Nunca tive qualquer esperança metafísica. Não acho que minha vida seja necessariamente melhor por isso. Uma das banalidades da sociedade moderna é confundir conhecimento com felicidade e sucesso. "A vida para a felicidade" é irmã gêmea da mediocridade.
Mas a mediocridade pode ser uma forma de sobreviver. Muitas vezes, não há muito mais do que isso como opção no cotidiano. Não acho que o conhecimento salve ninguém, mas ele nos ensina outras formas de olhar o mundo. Nós pensamos enquanto as aranhas tecem suas teias.

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25 de agosto de 2008

Pondé passa a escrever às segundas na Folha de São Paulo

Sua visão é de uma "desconfiança visceral" em relação às "promessas de felicidade da modernidade", ao "otimismo moderno", às certezas iluministas de progresso, a todo projeto utópico.
Admirador do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e, cada vez mais, de Nelson Rodrigues (1912-1980), Pondé já aceitou, sem queixas, o carimbo de "conservador", mas afirma agora que isso passou a incomodá-lo, já que é usado como pecha, ele diz, "como forma de excluir a pessoa do debate".
Em entrevista à Folha, no início do ano passado, criticou a "crença na razão como instrumento suficiente para o conhecimento", e afirmou sua "desconfiança com a idéia de que você possa jogar fora a tradição religiosa" e sua "contrariedade à idéia de ruptura -de que o ser humano possa inventar tudo a partir de hoje".
Pondé declara que gostaria de se inserir na tradição jornalística "que vai do crítico Otto Maria Carpeaux e de Nelson Rodrigues a Paulo Francis". "Gostaria de fazer na coluna uma quebra da unanimidade em relação às grandes crenças, preconceitos e manipulações que dominam o mundo intelectual. E fazer uma ponte entre o mundo acadêmico e o jornalismo", afirma. "Essa é uma espécie de plano de vôo."

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u437450.shtml

Quem tem medo do macaco?, por Luis Felipe Pondé.

 

Sobre o Autor

Luis Felipe Pondé: Luis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Atuou como professor convidado nas universidades de Marburg (Alemanha) e de Sevilha (Espanha). Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião e do Departamento de Teologia da PUC-SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo e da Casa do Saber.
Autor, entre outros títulos, de “O Homem Insuficiente”, “Crítica e Profecia”, “Filosofia da Religião em Dostoievski”, “Conhecimento na Desgraça” e “Ensaios de Filosofia da Religião”. É articulista da Folha de S. Paulo, com coluna semanal às segundas-feiras.     

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