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RESENHAS
Língua Ácida
Rubens Shirassu Júnior*
A sátira é um estilo fortemente mestiço, que proporciona uma desierarquização de valores altamente crítica, com dose de preconceito, e ninguém escapa da verve mordaz e contraditória do poeta paulista Glauco Mattoso. Seja criticando as contradições da sociedade e de si próprio como habitante da paulicéia ilhada. Essa contradição e exposição de mazelas, num texto recheado de uma dicção pseudo-coloquial freqüentemente se valendo do baixo calão, ao mesmo tempo, convive com a forma clássica do soneto.
Da contradição e exposição das mazelas, formam uma das poéticas mais híbridas e difusas, como o poeta baiano Gregório de Mattos, uma figura ímpar e polêmica no nosso cânone literário. E é a grande semelhança com o “Boca do Inferno”, que deparo ao ler Centopéia – Sonetos Nojentos & Quejandos, Paulisséia Ilhada – Sonetos Tópicos, Geléia de Rococó – Sonetos Barrocos Panacéia – Sonetos Colaterais (editado na coleção Janela do Caos, pela Nankin Editorial (os três lançados pelas Edições Ciência do Acidente) e, 2000) que se soma à trilogia publicada em 1999.
Glauco Mattoso têm uma voz poética forte e extremamente atual e opinião invejável, conseguiu respeito de uma parcela do meio intelectual e da crítica, a exemplo de Millôr Fernandes, Leo Gilson Ribeiro e José Paulo Paes. Como poucas vezes na poesia brasileira se tentou um rompimento visceral com a escritura acadêmica, ao enfrentar o estigma de “subliteratura”, Mattoso é estudado em universidades americanas por sua originalidade, contudo, sua poesia ainda não foi devidamente avaliada e valorizada no Brasil.
No lado brasileiro, percebe-se o marginalismo criativo que impossibilita a entrada do poeta para a História da Literatura pátria. Marginalismo temático e de linguagem, por transgredir os códigos lingüísticos mais contundentes, o dicionário e a gramática, o léxico e a sintaxe. Ele nos faz pensar novos modos de organização para uma História da Literatura Brasileira, visto que os métodos de ordenação que conhecemos (os métodos histórico, de estilo e de época, etc) não têm cometido barbaridades com o nosso acervo.
Sobre o Autor
Rubens Shirassu Júnior:
Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.
Contato: jrrs@estadao.com.br
Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/
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