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Obra ratifica importância de Balzac

Honoré de Balzac*

RINALDO GAMA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Consta que, desde a infância, Honoré de Balzac (1799-1850) tinha duas ambições: ser aceito no meio aristocrático e tornar-se uma celebridade literária.

O passo inicial para atingir o primeiro propósito fora dado por seu pai. Assim que melhorou de vida, Bernard-François Balssa trocou o sobrenome para Balzac -originário de uma tradicional família do sul da França, onde havia nascido- e o fez preceder por um "de", para lhe dar um toque de nobreza.

Quanto à literatura, Honoré não se cansava de, todas as noites, sonhar com os olhos abertos diante de sua irmã Laure, descrevendo-lhe os projetos que, um dia, iriam torná-lo monumental como Rabelais - que nascera na mesma cidade que ele, Tours.

De alguma forma, "O Amor Mascarado", romance que acaba de ganhar edição no Brasil, representa um encontro entre as mais antigas aspirações de Balzac. O livro foi escrito para presentear uma aristocrata, Dorothée de Biren, duquesa de Dino. E, embora longe de uma obra-prima, a narrativa ratifica que a trajetória do romance possa ser dividida em antes e depois de Honoré de Balzac.

Como não integra "A Comédia Humana" - título talvez sugerido ao ficcionista por um amigo, Auguste de Belloy, e sob o qual se abriga o extraordinário conjunto de quase cem livros-, "O Amor Mascarado", via de regra, fica de fora quando se compila a produção balzaquiana. Lançado em 1911, o romance permaneceu "por mais de meio século" guardado na biblioteca da homenageada. De lá, por iniciativa do próprio duque de Dino, Maurice de Talleyrand-Périgord, o manuscrito chegou a um certo Lucien Aubanel -que, por sua vez, o entregou à editora La Renaissance du Livre, a qual o trouxe a público.

O que se deve acrescentar é que, ao conhecê-lo, no ano de 1843, em Berlim, a duquesa de Dino achou o escritor "desajeitado e comum", segundo assinala Graham Robb em "Balzac - Uma Biografia" (1995). Curiosamente, o editor francês afirma que o ficcionista decidiu oferecer o presente a Dorothée de Biren por ser recebido "como um íntimo" em sua casa.

"O Amor Mascarado", que se chamava, a princípio, "Imprudência e Felicidade", conta uma história de inspiração moderna - com passagens inverossímeis. Num baile carnavalesco do Ópera, Léon de Préval, oficial da cavalaria, é abordado por uma jovem de máscara, Elinor de Roselis, que lhe pede ajuda para encontrar o casal com quem estava havia alguns minutos. À primeira vista, o interesse instantâneo de Léon pela mascarada não passa de um flerte. Em duas páginas, porém, ele já diz que ama a desconhecida. Impassível, ela, que se confessara viúva e desiludida com os homens, marca um encontro para somente dali a três semanas, dando início a um plano surpreendente -engravidar de Léon e desaparecer de Paris.

A idéia de uma mulher mascarada usando um estranho para consolidar o único amor ao qual está disposta a corresponder -o de um filho- é, não se discute, vigorosa. O romance, aliás, se apóia na figura de Elinor. Nada a estranhar: Honoré de Balzac tem sido, há muito, considerado um dos maiores criadores de personagens femininas. O ponto fraco da trama está em Léon -o perfil psicológico do oficial parece um rascunho diante do desenho de sólida coerência que é a mascarada.

Os livros que formam "A Comédia Humana" e, mesmo alguns que não entraram nela, como "O Amor Mascarado", transformaram Honoré de Balzac, na definição precisa de Walter Benjamin, no "primeiro herói da vida moderna". Isso talvez explique por que, mais do que em sua época, ele se afirme hoje como uma celebridade literária. A vida em vigília -das noites em que conversava com a irmã sobre seus projetos de escritor até as que se punha a escrever freneticamente- o fez escapar do pesado sono da morte.

(Rinaldo Gama é coordenador-executivo do Instituto Moreira Salles)

Sobre o Autor

Honoré de Balzac: Honoré Balzac (1799-1850), morto há cento e cinqüenta anos, foi um dos mais extraordinários e completos escritores de todos os tempos. Até os nossos dias qualquer um se impressiona com a vastidão e diversidade da sua obra, que, na tradução para o português, feita no Brasil dos anos 50 e 60, chegou a 17 volumes. Quem abrir qualquer um dos livros da Comédia Humana terá um mundo inteiro diante de si.

 

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