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Rabeca, o Som Inesperado, decifra o enigma de um rico instrumento popular

José Eduardo Gramani*

“A rabeca é um instrumento. Não é uma imitação de instrumento. Não é um violino mal acabado. NÃO! A rabeca é outro instrumento.” A frase do músico e professor José Eduardo Gramani é o ponto de partida para uma importante pesquisa que realizou sobre o instrumento no final da década de 90. O projeto, interrompido pela morte do pesquisador, procurava investigar uma rica fração do universo musical brasileiro, acompanhando o trabalho de quatro construtores de rabeca, de regiões diferentes e com características artesanais distintas.

Quatro anos depois, Daniella Gramani recuperou o material engavetado, reorganizou cada passo da pesquisa e publica, este mês, Rabeca, O Som Inesperado (Independente, 120 páginas, R$30). Numa edição de luxo, com tiragem de 2 mil exemplares, o livro traz fotografias do processo de lutheria do instrumento, textos explicativos sobre os artesões e, ainda, algumas partituras especialmente compostas para a rabeca.

Professor de Rítmica na Unicamp, violinista por formação e rabequeiro por opção, “Zé Gramani” foi a maior autoridade no país quando o assunto era rabeca. Em 1995 aprovou na FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) um projeto de pesquisa sobre o instrumento abordando a técnica de quatro artesãos e as áreas de construção de cada rabeca.

Durante dois anos (1996/97) Gramani e sua assistente Ana Salvagni percorreram quatro municípios: Paranaguá (PR), Morretes (PR), Iguape (SP) e Marechal Deodoro (AL). Em cada cidade um construtor de instrumento. Em cada instrumento uma característica singular.

“A rabeca é um instrumento que se diferencia da quase totalidade dos outros por uma característica fundamental: a ausência de padrões no seu processo de construção, no seu formato, tamanho, número de cordas e outros detalhes(...) Tais características garantem que cada instrumento tenha uma "personalidade’ uma voz própria". Neste fato reside o principal interesse da pesquisa”, justificou Gramani na apresentação de seu projeto.

A pesquisa, interrompida antes de sua conclusão, foi retomada por Daniella Gramani, filha única do pesquisador, e mais três colaboradores, todos eles músicos e muito próximos a Gramani. “Cada um ficou responsável por um construtor e teve um tempo para desvendar o material. Todo o quebra-cabeça foi ajudado pela Ana Salvagni que foi a "memória" da pesquisa”, conta Daniella.

A percussionista Gloria Cunha coube o artesão de Iguape (SP) Arão Barbosa; o músico e rabequeiro Esdras Rodrigues analisou o material do construtor de Paranaguá (PR), Júlio Pereira; o músico Luiz Fiaminghi, irmão do coração de Gramani, teve como tarefa o simpático alagoano “Seu” Nelson da Rabeca; e Daniella Gramani fecha o quarteto com o trabalho de Martinho dos Santos, Morretes (PR). No livro também estão todos os textos de Gramani (não eram muitos) do início ao fim da pesquisa.

Daniella conta que o projeto renasceu em 2000 com a proposta de pesquisar o material de Gramani. Decifrar o que ele estava enxergando. “Tinha que ser um livro para mostrar ao grande público o que é a rabeca, quem era o Gramani e como foi essa pesquisa. Um livro que não fosse restrito aos músicos. Isso deu um tom informal, tirou a profundidade de uma tese de mestrado e nós ampliamos o universo para leitores que gostam de cultura popular”, define e acrescenta: “O livro também tinha que ser bonito. O Gramani adorava livros bonitos.”

E, realmente, Rabeca, O Som Inesperado ficou caprichado. Dividido em oito capítulos - que contam, respectivamente, o projeto, os quatro construtores, as composições, o Gramani e os colaboradores -, o livro tem na diagramação uma comunicação visual que indica, por cores, quais são os textos de Gramani (fundo colorido) e dos colaboradores (fundo branco). O projeto gráfico de Paola Faoro também inclui partes do diário de Ana Salvagni, fichas técnicas de cada artesão, partituras musicais, desenhos feitos por Gramani no computador e muitas fotos do passo a passo na construção das rabecas.

A seleção de imagens obedeceram critérios estéticos e práticos para mostrar a construção das rabecas. Uma mostra itinerante com quarenta fotografias, inclusive algumas que ficaram fora do livro, está programada para acontecer em algumas cidades brasileiras, com abertura simultânea ao lançamento do livro. A exposição vai apresentar o olhar do Gramani para o universo dos rabequeiros. A primeira cidade a receber será Curitiba, depois segue para Campinas, São Paulo, Maceió e Rio de Janeiro.

Entre os projetos futuros Daniella Gramani pretende lançar um CD das músicas de Gramani, (material já gravado e inédito) com a sonoridade apropriada para cada rabeca construída durante a pesquisa. “Ele costumava dizer que as composições, marchas e valsinhas, eram um pedaço de sua infância em Itapira, no interior paulista”, lembra a filha que finaliza: “O pai tinha alma de rabeca e quase tudo que fazia era inesperado.”

Sobre o Autor

José Eduardo Gramani: violinista e professor de Rítmica da UNICAMP, apresentou à FAPESP um projeto de pesquisa chamado "Rabeca, o som inesperado". Seu objetivo era documentar o processo de construção das rabecas de Martinho dos Santos (Morretes- PR), de Julio Pereira (Paranaguá- PR), de Arão Barbosa (Iguape- SP) e de Nelson dos Santos (Marechal Deodoro- AL). Gramani contou com a ajuda preciosa de Ana Salvagni durante toda a pesquisa e registrou através de fotos, gravações em DAT e K7 e filmagens em VHS, a construção e utilização dessas rabecas. Infelizmente Gramani faleceu antes de escrever sobre os dados por ele coletados, nos deixando um material fotográfico belíssimo, todo o processo de feitura registrado, mas apenas alguns pequenos textos escritos (todos publicados no livro).

 

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