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NELSON DE OLIVEIRA: "A geração 90 foi, é e sempre será a minha melhor face"

por Chico Lopes *
publicado em 29/06/2006.

Nelson de Oliveira é um inquieto. Seu nome, que começou a ser intensamente falado na literatura brasileira com o aparecimento da polêmica Geração 90, marcada por duas antologias que, queiram ou não os críticos enjoados, entraram para a história da literatura recente do país, consegue sugerir muitas coisas vivas e contraditórias.

Ele, na verdade, considera isso ótimo, pois não tem, decididamente, vocação para escritor que vire instituição e unanimidade das burras. Inquietar, incomodar, cavar no veio do imprevisto, tarefa essencial do criador contemporâneo, é coisa inata em Nelson. Com uma obra multifacetada, que percorre o conto, o ensaio, o romance e não tem grilo nenhum com incorporar informações da cultura de massas, é um escritor para nosso tempo.

Criou-se de Nelson a imagem de um combativo, de um briguento, e é surpreendente como ele é afável, caseiro e acessível aos amigos. Essa combatividade fica reservada apenas para as arenas literárias. Teve sempre a maior das boas vontades para comigo, que apareci em sua vida com meu "Nó de sombras" para trocar idéias. Ganhei um admirador e um crítico fecundo.

Conversei com Nelson com exclusividade para o "Verdes Trigos" e ele nos cedeu aí um conto sobre futebol mais a capa de seu novo livro, Algum lugar em parte alguma, que vem por aí, pela Record. Para continuar incomodando.

CHICO LOPES: Nelson de Oliveira, com todo o nome que tem, é um escritor sem editora. Observe-se a variedade de editoras por onde andou publicando: Cia. das Letras, Record, Ateliê, Relume Dumará, Escrituras, Ciência do Acidente, Travessa dos Editores… Pode explicar isso?

NELSON DE OLIVEIRA: O acaso sempre coordenou a minha vida e a minha vontade. No início da minha carreira, publiquei por editoras diferentes certamente porque, na hora da verdade, cada livro acabou impondo sua filosofia particular. Mas atualmente estou na Record, de onde não pretendo sair tão cedo (espero que o acaso não me desminta). Meu próximo livro, a coletânea de contos Algum lugar em parte alguma, sairá por essa editora agora no início de agosto.

CHICO LOPES: Travei contato com você num momento em que minha fé na literatura brasileira estava lá no fundo do mais fundo dos poços. Você tinha lido Nó de sombras, meu primeiro livro, e me estimulou muito. Praticamente lançou o balde ao qual me agarrei pra sair do poço de "accidia"... Acredito que esse teu entusiasmo deve mexer com muita gente. A liderança, que no teu caso me parece muito natural, te incomoda?

NELSON DE OLIVEIRA: Esse meu proverbial entusiasmo era maior há seis, sete anos. Hoje, beirando as quarenta primaveras, sinto-me mais outonal do que nunca. Mudei eu ou mudou o mundo? É claro que o planeta continua tão tenebroso hoje quanto há vinte e cinco séculos. Então mudei eu. O humor continua negro, mas a paciência com os imbecis está cada vez menor. Talvez por isso eu esteja mais introspectivo, mais melancólico. Quase não tenho participado da maçante vida social literária. O tempo livre eu tenho gasto apenas com o doutorado e meus projetos literários.

CHICO LOPES: Recentemente, conversando com Marcelino Freire, disse a ele que acho que Angu de sangue é um livro que tem bem a cara do que a gente imagina ser a Geração 90... Qual dos teus livros, a teu ver, se enquadraria nessa possível cara? O que é a Geração 90, atualmente, pra você? Um rótulo que se dissipou? Uma idéia que continua viva? Um grilhão?

NELSON DE OLIVEIRA:
A Geração 90 foi, é e sempre será minha melhor face, meu lado mais irreverente, mais poético, mais sombrio, mais inquietante. Subsolo infinito é a marca que essa geração imprimiu na minha literatura. Treze, idem. As duas antologias que organizei para a editora Boitempo me assombram e maravilham. Sempre que as folheio eu perco o fôlego. De onde vem essa leve vertigem? Não faço a mínima idéia. Talvez da minha fantasia, da minha imaginação literária, sei lá. Você pergunta o que é a Geração 90 hoje para mim. Olha, prefiro não definir o mistério com outras palavras que não sejam as dos dois prefácios publicados nas antologias. Está tudo lá: as palavras certas na sua melhor ordem.

CHICO LOPES: Sempre senti um grande humor no teu trabalho, um gosto pela brincadeira, pela provocação. Você parece estar sempre reinventando, no teu campo, que é o mais aberto possível. Não há um Nelson coagulado, codificado. Explique esse gosto permanente pela aventura literária... Isso não será uma das razões pelas quais a crítica às vezes te persegue? A versatilidade, o que é: leviandade ou dom?

NELSON DE OLIVEIRA: Não importa se tenho que escrever um ensaio acadêmico, um conto ou um romance: a ironia e a irreverência têm que estar presentes em tudo o que eu faço. Nas minhas oficinas de criação literária eu não canso de repetir: o humor, o nonsense e a irreverência são ótimas portas para a liberdade plena (mesmo que essa liberdade seja apenas ilusão). Não estou falando da piada, do deboche ou da palhaçada, cujo objetivo é arrancar gargalhadas da platéia. Estou falando do humor sofisticado, também conhecido como "exercício de lógica sutil" (Pirandello), que revela os aspectos ridículos e incoerentes dos seres humanos e a hipocrisia das relações sociais. Mas é importante que o escritor saiba rir dos outros e também de si mesmo. Não levar tão a sério nem mesmo a prática literária, esse é o caminho para o autoconhecimento.

CHICO LOPES: Comecei lendo você pelos textos do Rascunho e por um livro de ensaios, delicioso, O século oculto (Escrituras, SP). Nesse livro, ficou-me a impressão de um permanente desafio, e gostei especialmente de você dizer, desfiando memórias, que a televisão e as histórias em quadrinhos tiveram um papel muito grande na tua formação literária. Essas influências espúrias (por assim dizer, se formos nos restringir ao viés purista) do mundo pop, da indústria cultural, como elas interferem no teu trabalho?

NELSON DE OLIVEIRA: Minha literatura sempre esteve contaminada pela cultura de massas. Na adolescência tudo o que eu lia eram revistas de histórias em quadrinhos e romances de ficção científica. O resto do meu tempo livre eu passava diante da tevê ou no cinema. Foi assim até os dezessete anos, quando me mudei para São Paulo, para cursar artes plásticas no Mackenzie. Kafka, Cortázar, Campos de Carvalho e Lobo Antunes só entraram na minha vida muito tarde. Aí já não dava mais para separar o joio do trigo. Sorte minha. Existe tipo mais boçal e anacrônico do que um intelectual purista?

CHICO LOPES: Por que escolheu Lobo Antunes e Campos de Carvalho como assunto de sua dissertação de mestrado?

NELSON DE OLIVEIRA: São romancistas muito diferentes, de épocas e lugares diferentes, que, no entanto, finalmente se encontraram ao tratarem do velho tema das expedições marítimas e da exploração colonial. Outro ponto que os une é o nonsense e o humor negro, aprendidos principalmente dos surrealistas. O púcaro búlgaro, do brasileiro Campos de Carvalho, e As naus, do português Lobo Antunes, avacalham com a tendência tão humana de navegar, desembarcar, matar e saquear

CHICO LOPES: Pergunta que venho fazendo a todos os escritores que entrevisto aqui: o que é escrever para você? Uma maneira de dizer não ao mundo, de reinventar a realidade pra poder suportá-la? Uma evasão? Um encontro? Um ato libertador? Ou outra prisão? Seremos mesmo nós, escritores, os deprimidos crônicos que nos pintam? Ou somos salvos exatamente pelo que nos condena?

NELSON DE OLIVEIRA: Escrever, pra mim, é igual ao sexo feito com amor: a melhor maneira de dizer SIM à vida e ao mundo. É como respirar, dormir, comer, defecar. Escrever é, das minhas funções biológicas, a mais recente, mas não a menos vital. Escrever e publicar, é claro, porque um ato se completa no outro. Talvez, quando chegar ao noventa, eu não esteja mais fazendo sexo. Será uma pena. Mas, com um pouco de sorte, ainda estarei escrevendo ensaios, contos e romances.

Sobre o Autor

Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.

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Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG

Email: franlopes54@terra.com.br

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