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Livro de Alaor Barbosa é uma bela epopéia infantil

por Ronaldo Cagiano *
publicado em 04/07/2005.

Quarenta e duas horas na vida de um garoto de 7 anos, vivente de uma cidade do interior goiano, com suas primeiras emoções, conflitos e descobertas - eis o leitmotiv do romance Uma lenda, de Alaor Barbosa (LGE Editora), escritor nascido em Morrinhos (GO) e radicado em Brasília há mais de duas décadas.

Narrado em primeira pessoa, Uma lenda é um mergulho na vida de Rafael Noronha, um garoto miúdo, mas precoce e observador, que vive na fictícia Imbaúbas e cedo experimenta as dores e delícias da vida. Aliás, Rafael e Imbaúbas são recorrentes nos diversos livros de Alaor, funcionam como espelho, alter ego ou recriação da terra natal do autor. O menino vive a pacatez e a alienação de uma cidade nos meados do século passado, experimentando ali seus primeiros sonhos e frustrações, quando empreende uma viagem dentro de si mesmo, no enfrentamento dos seus confrontos sociais e embates mais íntimos.

A ambientação desse romance retoma a linguagem peculiar do povo e do local e recompõe cenários geográficos e momentos psicológicos muito singulares. O autor se investe do menino-protagonista para reverberar aquele mundo, transportado para uma dicção cuidadosamente resgatada, permitindo ao leitor compartilhar suas mínimas tensões: as disputas na escola, o relacionamento familiar, os antagonismos religiosos, a convivência tempestuosa com o irmão Galeno, a descoberta de um novo mundo pelo mundo de Belinha - figura basilar que representa para ele um novo olhar, através do qual a vida exterior parecerá ter mais sentido e horizonte com a eclosão dos sentimentos.

O menino Rafael vai conhecendo a cidade, onde se descortinam situações inusitadas, deslindando um universo até então ignorado mas que parece ter sentido a partir dos novos contatos, dos primeiros espantos e das novidades. O livro é arrematado com chave de ouro, culminando num desfecho surpreendente, mas que celebra o encontro do amor, ainda que perfilado por uma tragédia.

Uma lenda é uma obra-prima do realismo, autêntica, original e permeada de sutilezas estilísticas. Como se fosse um romance em que aprofunda um estudo de tipos e situações, o autor retrata com fidelidade um modo de vida, sem retoques nem truques, flagrando um Brasil distante mas cujos valores compõem aquela rara dimensão de universalidade de que nos falava Tosltoi.

Alaor alcança uma harmonia semântica e um equilíbrio entre forma e conteúdo ao fundir o coloquialismo do falar provincial - traduzindo seus modos, jeitos, costumes, atavismos, pronúncias - com uma cuidadosa arquitetura, que não descaracteriza a linguagem da época nem torna inverossímil o lugar, resultado de seu agudíssimo senso estético. No decorrer da leitura, restam momentos de pura sensibilidade e poesia a partir da fotografia de um mundo natural e sem mistificação.

Alaor Barbosa produziu considerável bibliografia, incluindo ficção (Campo e noite, O exílio e a glória, Picumãs, Caminhos de Rafael, A morte de Cornélio Tabajara, Memórias do nego dado Bertolino d´Abadia) e ensaios/estudos (Um cenáculo na Paulicéia, O ficcionista Monteiro Lobato, Epopéia brasileira: para ler Guimarães Rosa, e Meu diário da Constituinte), além de títulos infanto-juvenis e obras jurídicas. No entanto, Uma lenda é seu primeiro livro, escrito há quase 40 anos, mas que sofreu revisões e alterações, permitindo ao autor burilar a história, não só acatando seu censo de autocrítica na recomposição de situações, como no aperfeiçoamento da estrutura e na definição dos aspectos psicológicos dos personagens. Com esse esmero, o autor trouxe à sua uma precisão sociológica e humana, o que nos permite compreender culturalmente o Brasil através de seus habitantes, ainda que referindo-se a uma época distante dos valores contemporâneos.

Uma lenda não só proporciona o prazer da leitura, como enriquece a densa prosa de Alaor Barbosa. É um livro que, adotando a técnica joyceana de reproduzir com intensidade as poucas horas na vida de um personagem, com o seu fluxo de consciência e sua carga sensorial, instaura, como assegura Antonio Olinto, 'uma narrativa inteiramente brasileira, colocada em palavras e frases que renovam o nosso modo de contar histórias' . (Ronaldo Cagiano)

Sobre o Autor

Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.

Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.

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