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Pobre gente dos Gerais

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 09/09/2008.

Foi de meia hora a palestra que Alaor Barbosa pronunciou na Academia Mineira de Letras, em 21 de agosto (a data de renúncia de Jânio, por sinal), na Semana Cultural Guimarães Rosa, comemorativa do seu centenário de nascimento. Meia hora que, aparentemente, tinha muito menos de trinta minutos, se se levar em consideração o texto aprazível do orador - advogado, jornalista, escritor de muito mérito, suas idéias.

Quem teve ocasião de ouvir a fala do autor goiano, de tantas raízes mineiras em com trinta inclinação pelas coisas de cá, não satisfaria em quedar-se na remuneração que ouvira. Tanto que, depois da exposição, assistentes dele se aproximaram para comentar aspectos e pormenores sobre o autor, sua vida, a de Rosa, seus lugares e personagens.

Chegou a dizer: "Em chão de Minas, sinto a presença nas camadas mais profundas do meu ser obscuras forças e indistintas lembranças querendo aflorar à tona da consciência: algo assim como um rever mais do que ver, um tornar a sentir o já sentido, um reviver o vivido".

Alaor Barbosa expôs o sentido da palavra epopéia, que praticamente nada mais tem a ver com o conceito antigo, dos tempos da "Ilíada" ou de "Os Lusíadas".

São comentários valiosos, porque para ele "do conceito de herói, pode-se inferir não é somente a essência distintiva do herói: para ser herói, basta possuir qualidades extraordinárias, valor e coragem acima do vulgar. Portanto, herói é quem possui qualidades bastantes para viver - vencendo o medo, que é um fenômeno natural - as diversas situações que se lhe apresentam em seu viver diário".

Para Barbosa, "Grande Sertão: Veredas" não é a única epopéia escrita por Rosa, se analisarem suas narrativas à idéia nova que sobre epopéia ele emite. Relata - e isso pode ter chamado a atenção - que, uma vez, no Itamaraty, encontrou-se com Guimarães e lhe disse que a mais perfeita criação literária era "Miguilin".

O orador se atém longamente ao tema, por julgar "Miguilin" "uma das melhores e mais comovedoras criações literárias de João Guimarães Rosa". Daí em diante, é explicar, porque esse apreço, esse respeito, essa admiração pela história e pelo personagem.

Para justificar-se, apresenta o elenco de problemas na vida da criança, uma sucessão de episódios dramáticos, de conflitos em família. De gente humilde, obscura, pobre em um lugar das Gerais. A narrativa começa em "Campo Geral" e se conclui em "Buriti", sempre mostrando a dura lida do homem em recôndita região em que tudo faltava, menos os desencontros em família.

Acompanha-se o cenário e a evolução dos sentimentos daquela precária vida no interior, em que inexistiam médicos e medicamentos, mas não morros, matos, cerrados, animais domésticos, ferozes, bichos.

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências

E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

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