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Quando eu crescer quero ser Will Self

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 06/07/2007.

Não me venham com essa de que o futuro da crônica está nos blogs. O que eu quero mesmo é um quarto semanal de página num bom jornal, de preferência sendo bem paga pra escrever sem ter que ouvir desaforo de ninguém. Talento pra isso eu tenho, mas ah, tudo bem: qualquer quartinho de aluguel na web já estou topando. Contanto que me paguem, como diz o Dapi: onde já se viu profissional escrever de graça? Não é que eu não ame a crônica, essa prima vadia da literatura. Amo sim, escrevo por amor: uma legítima amadora, afinal não vou cair nessa de que talento é coisa de... deixa pra lá.

Em condições normais de temperatura e pressão eu não teria o menor problema pra escrever esta confissão, mas convenhamos: uma velha grisalha de 55 anos, vestida de preto da cabeça aos pés — sim, de Converse — bancando a existencialista no inverno tórrido de Parati, lançando romance independente e (intro)metida numa oficina de crônica pra jovens escritores não tem nada de normal, ainda por cima depois do sexo no chuveiro, uai, gente, não era pra falar de sexo não?

Se o Nelson Rodrigues me ouvisse agora, não me poupava um "grã-fina de passeata", como ameaçou ontem mesmo aqui no blog um anônimo descarado desses: — Desce do pedestal, sua burguesinha! Ou talvez fosse até mais condescendente, afinal de contas o desígnio divino em Parati foi bom com ele, com o Nelson, quero dizer: por trás do óbvio ululante daquele véu de noiva ridículo, pendurado no campanário da Santa Rita — santa protetora das esposas desvalidas — com grinalda e tudo (e a pobre da cabra preta amarrada na árvore em frente, deixa o Serviço de Proteção aos Animais ficar sabendo disso) reina absoluta, absolutamente rodrigueana, a faixa de protesto dos funcionários do governo: CULTURA EM GREVE.

O estado da cultura brasileira é grave, mas no circo armado da FLIP a literatura parece bem, obrigada, na lona lotada, refrigerada e com tradução simultânea: coisa de primeiro mundo, fantasia intelectual do lado de baixo do Equador, e com puro sotaque inglês. Logo na entrada da Tenda dos Autores a herança genética de Nelson, disfarçada de Matusalém, se exibe para as câmeras, mas quem sabe sabe: se vivo estivesse, o nosso profeta maldito da crassa modernidade estaria lá dentro, no lugar de Arthur Dapieve (esse cara está em todas), brandindo o chicote pra domar Will Self. Mas não é isso que eu queria dizer.

O que eu queria dizer é que um duelo verbal entre Will Self e Nelson Rodrigues é que seria o máximo, imaginem só: dois leões daquele tamanho todo rugindo no mesmo picadeiro, sem domador nenhum pra atrapalhar, isso sim eu gostaria de ver, mas pobre do Nelson, não deu muita sorte nessa. O Anjo Pornográfico veio à FLIP, coitado, mas veio reincarnado — melhor dizendo, desconsoladamente aprisionado — no corpo mirrado desta velha grisalha que vos fala, como é que fui amarrar um bode desses? E ainda por cima metida a devassa, com esse papo furado de sexo no chuveiro, mal disfarçando uma constrangida sensualidade morna, amanhecida, coisa típica de terceira idade?

Bem, desculpem. Foi mal mesmo, acabou assim com um ar macabro de sexta-feira treze, no máximo uma versão piorada de Medium, mas crônica por encomenda, e ainda por cima "rodrigueana", tsk tsk, vocês esperavam o quê? Só mesmo baixando um Nelson pra eu confessar que no fundo no fundo, o que aprendi nesta oficina de crônica é que quando eu crescer como cronista, não quero ser Nelson Rodrigues nenhum. Quero ser myself.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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