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"Diplomas, Requisitos e Anestésicos"?

por Carol Westphalen *
publicado em 31/05/2004.

“Vende-se diploma de pós-graduação” era o que dizia um cartaz colado a 100 metros do prédio onde faço pós-graduação. Há mais máfias entre o homem e o mercado de trabalho do que imagina nossa vã filosofia. A máfia que falsifica diplomas é uma delas e não perde tempo. O personagem Marcos da novela das oito da Globo ganhou seu diploma de economista de presente. A Globo nem sempre foi uma escola formadora de cérebros ocos, mas tem decepcionado muito nessas duas últimas décadas. Vejam no que me transformei? (Risos) Em relação à graduação, então, me pergunto: de que adianta estudar já que diplomas são vendidos com desconto no varejo? Como fazer pra estudar num país de terceiro mundo sem ter que vender a alma ou a própria mãe? Na periferia, muitas mães se prostituem pra colocar seus filhos na escola. Poderíamos realmente dizer que elas são preguiçosas e acomodadas se tivesse opção. Que usassem camisinha? Muitas delas até já viram uma, mas alguém as ensinou a usar corretamente? Empresários só contratam pessoas que não tiveram acesso aos estudos pra limpar privada, servir cafezinho ou coisa do gênero. E quem vive com um salário-mínimo? Ah, mas tem a cesta básica, não é mesmo? Prestar Fuvest está fora de cogitação pra quem não tem sorte, digo, dinheiro. As universidades federais não foram feitas pro povo. Só estuda em universidade não-paga quem não precisa trabalhar e quem trabalha não pode fazer um curso que seja período integral. O governo é de uma estupidez lamentável, pois disponibiliza uma instituição pro povo, mas ele não pode usufruir.

Isso sem falar na decadência do ensino superior, de modo geral. Algumas faculdades deixam a desejar. Muitos dos cursos oferecidos ensinam teorias obsoletas e, nem sempre, fazem link da matéria em pauta com nosso cotidiano atual. As empresas exigem que os candidatos tenham, pelo menos, dois idiomas. E nós sabemos que, na maioria dos casos, o infeliz não vai mesmo precisar falar outro idioma que não o português – ainda que mal e porcamente. De qualquer forma, muitas vagas são preenchidas misteriosamente e diplomados ficam a ver navios. As exigências curriculares aumentam e os salários diminuem. Mas as pessoas reclamam da boca pra fora. E como fazer alguma coisa se elas são obrigadas a sucumbir a esse sistema de trabalho escravo e ditador? Não há escapatória. Ou aceitamos essa condição escravagista ou iremos todos de uma vez viver nas ruas. Já imaginaram se um dia o povo resolve sair nas ruas e se revoltar de verdade contra o Planalto Central e agregados? Por exemplo, o governo, ao invés de regularizar a situação da aposentadoria dos idosos, prefere contratar os coitados pra limpar os banheiros do metrô. E quando ele se esquece totalmente dos senis, eles podem optar entre passar 6 horas por dia em pé fazendo aquele papel surreal de homem-sanduíche ou, então, pedir esmola no farol àquelas pessoas lindas que só abaixariam seus vidros pretos por mais um anel de diamantes da Tiffany’s. Imaginem os requisitos pra uma vaga de diretor numa empresa qualquer? Mesmo sabendo que o salário é absurdamente defasado, o infeliz vai precisar nascer de novo.

Ninguém escolhe ser pobre ou opta pela falta de condições. Apenas uma minoria consegue acessar bons empregos na vida. As escolas oferecidas às periferias são precárias demais. Desde a primeira série do ensino fundamental a criança sofre tentando lidar com a falta das coisas. A violência e a marginalidade são apenas respostas. É a famosa Lei da Ação e Reação. O favelado marginal não aceita um mínimo, já que ele deseja ter todas as coisas que nunca teve. Por isso, não pensa duas vezes antes de atirar pra matar. Matar uma pessoa que tem as coisas que ele gostaria de ter, pra ele, é um prazer, talvez, mais inconsciente do que consciente. O povo dá duro, passa mal e morre de esperanças diariamente, e, provavelmente, não tem culpa da corrupção que assola o país. A Câmara dos Deputados está sempre às moscas. Quem se importa realmente com o povo do nosso país? O povo acredita que é feliz porque carnaval o ano todo só existe no Brasil mesmo. Pra uma vida cheia de desgraças é preciso realmente alguns anestésicos. Dessa forma, a gente esquece que foi jogado num canto e acaba até mesmo tocando o pandeiro pra não pensar besteira. A gente tá careca de saber que governo brasileiro é negligente de A a Z. A venda de diplomas é só um detalhe. Pensando bem, não seria mais sensato gastar R$ 50 mil numa casa do que numa faculdade?

Sobre o Autor

Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.

Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br

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