Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Moacyr Scliar


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

A nossa frágil condição humana

por Moacyr Scliar *
publicado em 09/04/2007.

O ano era 1975, época da ditadura militar. Como muitas vezes acontecia então, um jornalista foi detido: era Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de São Paulo.

Levado para a carceragem, no dia seguinte estava morto. Versão oficial: suicídio por enforcamento. Herzog era judeu. Na religião judaica, os suicidas não podem ser sepultados junto com outras pessoas, e sim em lugar à parte no cemitério, ao pé do muro. A decisão de onde seria enterrado era aguardada, por isso, com expectativa: ela endossaria ou não a idéia de suicídio. Herzog não foi enterrado ao pé do muro.

E quem o decidiu foi um jovem rabino recém-chegado ao Brasil, Henry Sobel. Sua corajosa posição repercutiu intensamente e deu início a uma carreira surpreendente.

Sobel logo se caracterizou como um homem do diálogo e de idéias avançadas: idéias que não deixavam de provocar controvérsia na comunidade judaica, mas que o transformaram numa figura de vanguarda em nosso país. E aí acontece algo surrealista: este homem é preso, nos EUA, roubando gravatas. Gravatas que certamente Sobel poderia comprar. Sua perturbadora conduta mostra como são complicados e imprevistos os labirintos da mente humana. Homem inteligente, sensato, Sobel não faria o absurdo que fez se estivesse naquilo que chamamos de “o seu normal”. Mas ele não estava em “seu normal”. Só com a prisão deu-se conta do que tinha feito.

Um incidente grotesco, mas também uma tragédia, atingindo uma figura importante no debate brasileiro. Com o que descobrimos, penosamente, que mesmo líderes expressivos são seres humanos, sujeitos às vaidades, às fraquezas e às doenças que acometem os seres humanos. Agora vejam a ironia: quando os imigrantes judeus chegaram ao Brasil, e particularmente a São Paulo, muitos deles tornaram-se vendedores ambulantes de gravatas.

Naquela época ninguém podia entrar num banco (sobretudo para pedir um empréstimo) sem gravata. Era um comércio modesto, mas com público certo, e foi até celebrado por Adoniram Barbosa num samba famoso: “Jacó/ o senhor me prometeu/ uma gravata…”.

A gravata era, para os vendedores, um meio de sobrevivência. Mas era também, e continua sendo, um símbolo de status. Um símbolo que, para Henry Sobel custou caro, absurdamente caro – mais caro que o obsceno preço em dólares.

Este absurdo nos remete, ainda que metaforicamente, às contradições inerentes à condição humana, e contra as quais nem a cultura, nem a sabedoria, servem como antídotos. E nos lembra a frase do escritor latino Públio Terêncio, que viveu por volta do segundo século antes de Cristo: “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho”.

Sobre o Autor

Moacyr Scliar: Nasceu em Porto Alegre, em 1937. É formado em medicina, profissão que exerce até hoje. Autor de uma vasta obra que abrange conto, romance, literatura juvenil, crônica e ensaio, recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988 e 1993), o APCA (1989) e o Casa de las Americas (1989). Já teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro.

O centauro no jardim, A majestade do Xingu, A mulher que escreveu a Bíblia e Contos reunidos são alguns dos livros marcantes de sua vasta obra literária, que soma hoje mais de 70 títulos publicados. Entre os recentes, destacam-se o romance Na noite do ventre, o diamante e o juvenil Um menino chamado Moisés, uma reconstituição imaginária da infância do famoso personagem bíblico.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


A última chance de Anita: o incontornável desejo e a infalível velhice, por Chico Lopes.

Dom Quixote e a modernidade, por Carol Westphalen.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos