Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Ronaldo Cagiano


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Poética apaixonada além da estética

por Ronaldo Cagiano *
publicado em 22/03/2006.

No país para uma homenagem na ABL, o argentino Rodolfo Alonso faz uma poesia que dialoga com a filosofia e a história.

'Uma poesia que não usa as palavras pela sensualidade que desprendem, mas pelo silêncio que concentram. Poesia que tenta exprimir o máximo de valores no mínimo de matéria vocabular, impondo-se uma concisão que chega à mudez.' Assim definiu Carlos Drummond de Andrade a poesia do livro Hago el amor (1969), de Rodolfo Alonso, poeta, crítico e ensaísta argentino que está no Rio para uma homenagem na Academia Brasileira de Letras, na quinta-feira, às 15h, quando recebe as Palmas Acadêmicas, honraria da casa dedicada a personalidades estrangeiras.

Alonso estreitou os laços com o Brasil a partir de intenso contato epistolar com Drummond e Murilo Mendes, dos quais se tornou amigo. Desde cedo sentiu grande empatia com a língua portuguesa, tendo sido o primeiro tradutor de Fernando Pessoa para a América Latina, além de verter as obras de Olavo Bilac, Drummond, Manuel Bandeira, Murilo Mendes e outros.

Depois de introduzir alguns de nossos autores na Argentina, a poesia de Rodolfo Alonso chega ao Brasil com chancela da Editora Thesaurus, de Brasília. Ao publicar sua Antologia pessoal (edição bilíngüe, 196 pgs., R$20), preenche uma lacuna e faz jus a um escritor de intensa e apaixonada produção pessoal, que faz da literatura uma ponte dialética e cultural, cristalizando um intercâmbio de experiências estéticas e humanas em que há um diálogo com a história e a filosofia, um trânsito entre escolas e movimentos literários.

Tanto na poesia de ressonâncias líricas quanto na de inflexão social e crítica, a práxis poética de Rodolfo Alonso reveste-se de peculiar concentração textual que, mesmo nos poemas mais longos, prescinde de um discurso caudaloso.

Essa tessitura e acabamento encontramos em Cuerpo presente: 'Tantas como soñamos/ merecer una/ (Una mujer/ Muslos de tempestad/ senos de viento/ sagrado olor a mar)/ Toda mujer/ sentada/ en el augusto trono/ de su cintura/ Inmensa'. E no singularíssimo Vizcacha: '¿La metáfora viva que buscaron/ para buscarse todos, al buscarse,/ vuelve como parodia e ironía?/ ¿Este misterio, este país que somos/ y que se enzarza fiero en su destino/ como luz mala en el desierto, ahora o/ siempre bajo el solazo crudo, al rayo/ del deseo, la impaciencia y su hermana/ ciega: la impotencia? ¿Ni civiles/ ni bárbaros, apenas decadentes?/ ¿Esa imagen profunda de uno mismo/ donde abrevaba el mito, la verdad/ oculta porque oscura, oscura/ porque honda, eso que nos hacía/ ser y que íbamos a ser, culpables,/ desolados, quejosos, engreídos,/ ni Cruz ni Fierro fueron, sino El Viejo?'.

Em Anti Warhol, dedicado a Marcel Duchamp, há um viés crítico, quando questiona os fetiches e ícones da sociedade contemporânea. Apesar da densidade do tema, não se desvia por um ritmo palavroso: 'Brillo de superficie en una cajá/ donde la nada brilla nada brilla/ brillo del triunfo que triunfa con brillar/ sobre la superficie del instante/ brillo de sociedad de saciedad/ contagio del hartazgo asco del ágio/ superficial alud la ola de nada/ que ávida nos envasa encenagados/ en catedrales selvas de consumo/ cárceles de mirar y ser mirado/ los bárbaros no esperes han llegado/ en la cadencia de la decadência/ la seducción que castra el vuelo raso/ que imagina tragedia al gallinero/ el despiadado espejo helada llama/ de la cautivadora que cautiva/ brillo de superficie donde encaja/ el anonadamiento de la nada/ la superficie opaca ya no oculta/ la superficie esquiva de la época/ la mera superficie el puro brillo/ de lo superficial no hay interior/ la apariencia culmina su espectáculo/ la superficie de la nada brilla'.

A experiência de Alonso com a linguagem remonta à adolescência, quando aos 17 anos aproximou-se de um grupo de escritores de vanguarda que gravitavam em torno da revista Poesia Buenos Aires. Após contato com várias correntes, seu processo de rigor e precisão, que harmoniza forma e conteúdo, cada vez mais se aperfeiçoou. Alcançando o mais apurado grau de clareza e objetividade, persegue o essencial, sem desperdiçar toda a carga semântica e metafórica que a criação poética oferece.

Autor de 25 livros, entre os quais Salud o nada (1954), Buenos vientos (1956), Hablar claro (1964), Relaciones (1968), Señora Vida (1979), Sol o sombra (1981), Música concreta (1994) e Defensa de la poesía (1997), Rodolfo Alonso se renova a cada livro. Sua poesia chega em boa hora, sobretudo em tempos de consolidação do Mercosul, quando se espera, além da simbiose econômica, uma convivência que favoreça a valorização cultural e a consolidação das múltiplas expressões literárias do continente.

E ao proclamar que 'hoy estamos aquí contenemos el mundo/ rebeldes a la muerte a la resurrección a la palabra', sua poesia reflete não apenas o compromisso estético com a linguagem, mas a necessidade de tocar no que é essencial, profundo e humano, convertendo-se num compromisso ético, em que as questões existenciais e sociais ensejam um grito que reverbera as suas e as nossas angústias, preocupados que estamos com os destinos do homem e do mundo.

Sobre o Autor

Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.

Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


BIOLOGIA, por Pablo Morenno.

Páginas (avulsas) da vida - 2, por Terezinha Pereira.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos