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A informática e o futuro da literatura brasileira

por Whisner Fraga *
publicado em 03/06/2005.

Há nem tanto tempo assim, o destino da nossa literatura estava sob o arbítrio do presente da literatura francesa. Hoje não podemos falar com segurança que nossos escritores sofram alguma influência do que vem lá de fora. Não pelo fato de não saberem francês ou alemão. Isso não sabem mesmo, mas o mercado editorial brasileiro anda tão eficiente que participa até de lançamentos mundiais simultâneos. Equipes de tradutores trabalham rapidamente. O nosso escritor tem ao alcance o que há de mais recente na literatura mundial em sua própria língua.
O problema é que não há nenhuma novidade literária mundial. A França produz livros para agradar seus leitores. A Europa inteira segue a mesma vereda. Seus escritores não se arriscam a criar contos porque o público não compra. As editoras não publicam contos porque esse estilo não vende. E assim atualmente não são produzidas narrativas curtas no velho continente. Algumas exceções devem ser mencionadas, como o Javier Marías, na Espanha e mesmo o Michel Quint, na França, se considerarmos o seu “Jardins assustadores”, um conto encompridado.

Os Estados Unidos, referência financeira, tecnológica, educacional e política, felizmente não palpitam na nossa literatura. Não se pode ousar estender o termo para cultura, porque o mundo inteiro só consome hoje o cinema do Tio Sam. Não vem ao caso questionar se estes filmes podem ser considerados cultura ou não. São vendidos como tal e é o suficiente para nossa análise. Literariamente, o último arrojo por lá foi a saga do Coelho de Updike.

Nossos ficcionistas, abandonados, órfãos de grandes cânones contemporâneos, começaram a beber de fontes mais remotas. Reviveram Machado de Assis, Dostoievski e Kafka, entre inúmeros outros. Dentre estes brasileiros desamparados, cito três que pretendem criar algo de novo debaixo do sol: Luiz Ruffato, Marcelo Mirisola e Nelson de Oliveira. Ainda não chegaram à maturidade, estão até um tanto longe disso, mas seguem para lá. São os nossos melhores experimentalistas.

Achou-se há algum tempo que o futuro viria com a tecnologia. Seria com este novo formato que importaríamos influência lá de fora. A esse respeito confundiu-se vanguarda com experimentalismo e nada pôde ser feito de aproveitável no campo. Alguns poetas produziram poesias multimídia, outros contistas burilaram textos ambientados na Internet, mas nada que mereça destaque. Como poderia ser aplicado todo esse aparato computacional que estamos vivenciando, em prol da literatura de qualidade?

Antes de prosseguir, é importante ressaltar a solidão dos profissionais (considerando o escritor como tal) nos dias presentes. Ninguém sai de seu habitat para algum passeio mais profundo em outras ciências. Os analistas de sistemas estão no seu canto. Os lingüistas nos deles. Os ensaístas encaramujados. Os bibliotecários absortos. Os educadores abobados. Não trabalham em conjunto e não percebem que é impossível ser especialistas em todas as áreas. Entretanto, com essa moda de interdisciplinaridade, existem campos de pesquisa com nomes “lingüística computacional”, “ontologia semântica na web”, “recuperação de informações de objetos educacionais”.

Como o escritor poderia se aproveitar dessas tecnologias, indo além das brincadeiras virtuais, das letrinhas dançantes? Imagine um poeta. Ele está em seu regurgitar metafísico e resolve ir para o computador e transformar suas divagações em alguns alexandrinos. Supondo, evidente, que semelhante artesão seja mais novo, que os antigos ainda manuseiam uma velha e devidamente bolorenta máquina de escrever. Como seu editor de texto poderia ajudá-lo nesta tarefa? De várias maneiras.

Presuma que o computador tenha uma base de dados razoável e que, caso não possua, o poeta esteja conectado à Internet (um banco de dados praticamente infinito). O programa poderia informar o experimentado autor quando este cometesse um deslize e tentasse inserir um clichê em seu trabalho. Poderia, quando sentisse (é, o computador está muito próximo de sentir) a aproximação de um block-writer, oferecer algumas opções de frases, sugestões de como completar um verso, baseadas em buscas em toda a literatura mundial desde eras remotas até os dias atuais. Poderia indicar para cada palavra digitada pelo artífice um rol de sinônimos, capturados de algum dicionário. Poderia fornecer listas de metáforas.

Mas por que poderia? Porque ainda não pensaram nisso. E se pensaram, descobriram não haver nenhum interesse econômico na jogada. Claro que nada do que se discute até aqui será útil na criação de um gênio como Camus ou Dostoievski, entretanto não vai atrapalhar o talento de ninguém.
Depois, o que ler? Dizem que estamos na era da informação. Mas nunca fomos tão desinformados. Ou mal-informados. A Internet seria um excelente guia para este nosso poeta. Pesquisaria, usando algum critério de seleção, baseado em qualidade, os artigos mais relevantes sobre o que realmente aconteceu de novidade na literatura. Assim ele não perderia tempo lendo e filtrando resenhas de livros.

O futuro da nossa literatura terá de passar por esses atalhos. A simples consideração da existência dessa alternativa já é um avanço. Dizem até que temos uma geração de computador, embora este nome seja bastante infeliz. Devemos ter, isso sim, uma geração de escritores blogueira1 , confessamente umbiguista, cujo valor literário é desnecessário discutir.

O computador foi mal interpretado por nossos ficcionistas. Está sendo utilizado como uma ferramenta de atualização do antigo e não como uma nova e potente tecnologia de auxílio ao escritor. Não raro ouve-se algum saudosista exaltar as qualidades de sua Olivetti Lettera 22, usando-as como critério para não adoção do teclado e editores de texto. Nem contra este nem em oposição àquela o artigo quer se pronunciar. Façam sua primeira versão na querida Olivetti e a passem a limpo no micro.

O avanço de qualquer arte está subordinado ao desenvolvimento tecnológico. O desafio é encontrar a melhor utilização de uma tecnologia, para que esta trabalhe verdadeiramente em função de uma nova arte.

1 Blog é um diário virtual e blogueiro é aquele que o escreve. No Brasil os principais representantes desta tendência são Clarah Averbuck, João Paulo Cuenca e Santiago Nazarian.

Sobre o Autor

Whisner Fraga: Escritor, autor de Inventário do desassossego. Detentor de vários prêmios literários, dentre eles Segundo Lugar no Primeiro Concurso Internacional da Sociedade de Cultura Latina no Brasil, Terceiro Lugar no Primeiro Prêmio Missões, categoria Conto e Segundo Lugar no Com. de Contos de São Paulo. Organizador de antologias, publicou duas, "Encontros", de contos e "Literatura do Século XXI", de poesias. Teatrólogo, é autor da peça "Biografia de um dia só", um monólogo intimista.

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