Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Chico Lopes


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

FIASCOS ROMÂNTICOS E CLÁSSICO DE CARMEN MIRANDA DIRIGIDO POR BUSBY BERKELEY

por Chico Lopes *
publicado em 04/10/2008.

UM AMOR PARA TODA A VIDA - O chato de quem vê muito cinema é a constante traição às expectativas. A gente sabe que a realidade cinematográfica anda medíocre e esgotada (parece que todos os gêneros vão se esvaziando dia após dia), mas sempre tem a louca esperança de encontrar aquele filme que desminta nossos tristes prognósticos infalíveis na maior parte dos casos. Queremos ter surpresas, queremos nos emocionar, irritados pela realidade lógica, mas desmancha-prazeres.

"Um amor para toda a vida", que tem à frente do elenco os veteranos Christopher Plummer e Shirley MacLaine, parecia merecedor de uma locação esperançosa.

Qual o quê! Realizado em 2007 pelo inglês Richard Attenborough, que já fez filmes de muito sucesso como "Ghandi" e "Um grito de liberdade", "Um amor para toda a vida" ("Closing the ring") é um filme particularmente frouxo, embora tenha um bom elenco e uma história de amor promissora, que começa na Irlanda, na Segunda Guerra Mundial, e é ligada aos dias atuais por um anel que certo piloto, morto num acidente, deixou para a sua namorada americana, muito desejada pelos seus amigos. Não vou me lembrar do nome do ator que ama e é amado por sua namorada americana (mais tarde, ela será o personagem de Shirley MacLaine), mas ele é de uma ruindade espantosa, não consegue passar a menor chama.

Aliás, o elenco jovem (incluindo Neve Campbell) fica devendo, e a gente se consola só quando os veteranos entram em ação, incluindo a inglesa Brenda Fricker, dona de um grande talento que, infelizmente, o filme aproveita pouquíssimo. Nem MacLaine, que tem salvado muito filme ruim, conseguiu, como protagonista deste, fazer muita coisa. No final, com Attenborough tentando apelar para o suspense, o drama e as lágrimas, ela até se expõe voluntariamente, motivada por seu grande amor, a bombas do IRA, mas, ainda assim, o filme não sai de sua pantanosa mediocridade - nem que fosse bombardeada a gente se comoveria. Lastimável.

CHATICE COM LINDAS FIRULAS - O cineasta chinês Wong Kar Wai, elogiado por filmes como "Amor à flor da pele", estreou no cinema americano com "Um beijo roubado" ("My blueberry nights") e boa parte da crítica não gostou, mas li vários críticos nacionais aprovando a produção, embora mantendo algumas ressalvas. Eram visivelmente fãs de Wai querendo preservar o prestígio do cineasta.

O filme é visualmente cuidado, mas padece de uma letargia estranha e é particularmente irritante no início, quando a conversa entre Jude Law e Norah Jones se desenrola no bar do primeiro em torno de tortas de mirtilo (o "blueberry" do título original) e outras obviedades que recebem um tratamento muito artístico de vidros e letreiros superpostos à frente dos gestos, do ir e vir dos personagens (o artifício é cansativo). As câmeras lentas, as cores saturadas, as tomadas com muito néon e muito visual metropolitano real-chique, fazem pensar em coisas afetadas dos anos 80 como "Paris-Texas", "Coração satânico" e "Fome de viver", uma estética datada.

Isso não chegaria a importar se a história, que é a de uma moça que perde o namorado e mergulha pelo interior da América, fosse mais vibrante.

Mas a coisa jamais pega fogo, porque a cantora Norah Jones, como protagonista, não tem vida e Jude Law, por mais que se esforce, não é um grande ator. A vida só dá as caras quando surgem David Strathairn, capaz de imprimir uma dignidade desesperadora a seu personagem de policial alcoólatra, e a bela Rachel Weisz como a mulher que ele ama, mas o despreza e o trai acintosamente com outros (e a beleza pungente de Weisz faz com que compreendamos a dor de Strathairn muito bem).

A personagem de Norah se envolverá depois com uma jogadora de Las Vegas vivida também muito bem por Natalie Portman, mas acaba aí. O interesse de seu caso de amor apenas esboçado no início com Jude Law perde-se em meio a essas figuras, e só o espectador mais fanático por Wai resistirá aos bocejos. Um filme só com Strathairn, Weisz e Portman teria sido infinitamente melhor.

Claro que "Um beijo roubado", com seus maneirismos visuais, sempre achará quem o defenda. Mas não é nada além de uma vitrine bonita debaixo da qual não há nada. Bem, a trilha sonora é convincente, com Ottis Redding de repente, cantando "Try a little tenderness", dando àquela coisa morta um brilho passional, e com outros números charmosos, incluindo um com a voz de Norah. Melhor que ela continue só cantora, concluímos.

CARMEM ERA TUDO QUE AQUELES FILMES TINHAM - Pode-se encontrar hoje em dia DVDs de Carmen Miranda a bom preço em bancas e promoções por aí. É o caso de "Entre a loura e a morena" ("The gang´s all here"), seu filme mais mítico e o que mais despertou entusiasmo da crítica, realizado pela Fox em 1943, sob a direção do coreógrafo Busby Berkeley. Quem é fã não hesitará em adquirir. Para o espectador comum, porém, aconselho: é melhor pensar bem.

Porque a grande verdade é que Carmen Miranda era tudo que aqueles filmes da Fox, da época da Política da Boa Vizinhança, tinham a mostrar. Já vi quase todos, e continuo achando Alice Faye e seus galãs inteiramente anacrônicos e insuportáveis. Faye é uma loura chata, que canta melosamente, e está sempre envolvida com algum galã sorridente e sadio, "all american", daqueles tempos. Tudo parece irremediavelmente morto, e as tramas - se aquelas historinhas contém vagamente uma trama - são sempre um caso de amor cheio de mal-entendidos que invariavelmente acabará bem, unindo a loura a seu louro ou moreno (contanto que seja americano) e os dois para sempre farão lindos filhotinhos sadios comedores de corn-flakes. No meio disso, algumas correrias e Carmen, sempre com um nome mais para argentino ou mexicano, fazendo seus números. É tremendamente previsível, e em "Entre a loura e a morena", Berkeley, coreógrafo de grande ousadia, mas mau diretor, nem mesmo se preocupa com o enredo idiota - capricha nos números musicais e pronto.

O filme é espantoso, porque já começa com alguém cantando a aquarela de Ary, na primeira imagem e fala na tela (!!!). O apogeu desse absurdo falsamente cômico é o número de Carmen "The lady with the tutti-frutti hat", com bananas gigantescas e já nem se pode dizer fálicas, de tão óbvio e vulgar aquilo é, mas o delírio evoca algum quadro de Dali e convence os que achavam que Berkeley era um gênio. Aliás, o filme só é salvo por esses delírios visuais tão cafonas que vão além do kitsch, deixando a gente boquiaberto, e porque Carmen é um dínamo - põe vida em qualquer coisa. Só que aparece pouco, e quem é que agüenta Faye e seus galãs por muito tempo? Eu não.

O recurso da seleção de cenas dos DVDs é o socorro a esse tipo de filme - a gente pode ver apenas os números musicais de Carmen, grande talento brasileiro, imortal com todo mérito. O resto é só o resto.

Sobre o Autor

Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.

Mais Chico Lopes, clique aqui


Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG

Email: franlopes54@terra.com.br

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Krav Magá, por .::. Verdes Trigos Cultural .::..

A saga de um homem odioso, um monstro simpático e outras visões, por Chico Lopes.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos