Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Manoel Hygino dos Santos


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Sonhos de uma vida infeliz

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 22/10/2007.

Quando Ronaldo Cagiano elegeu os autores que constariam de sua “Antologia do Conto Brasiliense”, nela incluiu Whisner Fraga. E fez bem. O jovem engenheiro mecânico nascido em Ituiutaba, em 1971, é uma das belas revelações de nossas letras.

Whisner é autor de “Seres e sombras”, “Coreografia dos danados”, “Anatomia de todas as noites”, os dois primeiros em prosa, e terceiro poesia, gênero que lhe deu distinção na revista inglesa “Poetic Hours”. E tem uma peça: “Biografia de um dia só”, monólogo intimista; dentre outros trabalhos.

Em 2007, aparece com ““As espirais de outubro””, pela Nankin Editora, de São Paulo. É a história de uma jovem que sonhou conquistar o Nobel de Literatura, e viveu a vida sonhando com o estrondoso sucesso nas letras e felicidade
pessoal, jamais conquistada.

A sonhadora relata, com emoção, sua infância, sua adolescência, suas expectativas, sua maturidade, o envelhecimento, só, mortos os pais e o irmão, que lhe fora uma dor muito sentida, um homossexual.

Seus sentimentos, suas divagações, seus pensamentos, seus projetos, suas decepções e raras alegrias são descritas nesse comovente livro de Whisner Fraga, dono de um texto de altos predicados. Num apartamento em Botafogo, no Rio de Janeiro, já caminhando para a decrepitude, Aila confessa: “Não espero um céu que me devolva o corpo esculpido de meus vinte anos, nem que me dê uma salvação privada de dores; com o tempo aprendi a viver com elas, sentiria falta. Tampouco quero um Deus piedoso para lançar o esquecimento sobre as minhas perversidades. Foram lições preciosas. Deixei de lado as brincadeiras pueris sobre a existência ou não desse Monstro-poderoso, talvez porque eu queira dar continuidade a essa vida que tive aqui. Sim, “tive”, porque o que vivi já se passou e tudo agora se resume a uma resignada espera pela morte”.

Tão pungentes reflexões são acompanhadas de numerosas outras, ao longo de décadas de sofrida existência. Queria ter um filho, mas a natureza o proibiu: “Se nunca se arredondou a minha barriga e pela vagina jamais expeli nenhum ser, mas antes o periódico da minha incapacidade de gravidez, não foi por escolha própria”. Precisava possuir algo que a localizasse na vida e lhe desse a capacidade de envolver o pequenino ser em suas garras de mãe.

“Queria mais do que as “coisas”, desejava a latência, a pulsação, o ardor, uma voz que na madrugada gritasse “tenho medo, mãe” e só se acalmasse com os meus afagos. E eu diria: “meu filho!” “Meu!” E quando crescido ele
dissesse: “quero conhecer o mundo!”, eu diria: “não, meu filho. O mundo não necessita de você, eu sim!” E ele ficaria porque era meu. Meu”
.

No apartamento, freneticamente acompanhava os acontecimentos sociais, políticos, esportivos. Os jornais publicavam, registravam. O discurso de Jango, na Praça Cristiano Otoni, com apenas pequenos incidentes. “O povo saturado de sofrimentos, só se fala no milagre da salvação nacional, nas reformas de base e no novo estatuto da terra”.

Mas a escritora Aila continuava sonhando, mesmo sentindo a devastação de suas mais caras esperanças. Ao completar 36 anos, com 11 livros publicados, meditava: “Nunca cuidei de assuntos concretos, o costume à mercê daquilo que hoje se chama alienação, resquícios da ditadura, ainda não sabia. E minha poesia indiferente combinava com meu alheamento e as pessoas precisavam dessa fuga, um instante de trégua, o mundo intolerante.

Nesse diapasão, corre o livro de Whisner, agradável livro, tanto quanto os demais. E corre a vida de Aila, a criança, a menina, a mulher madura, a idosa, fenecendo, sem mais sonhos, apenas esperando morrer.

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências


E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Café Filosófico fecha “ano velho” com Marcelo Rubens Paiva, por Assessoria de Imprensa.

INTRADOXOS, poesia cinética, por José Aloise Bahia.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos