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Chutzpah

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 23/09/2007.

Eu sei, eu sei. É chutzpah — do hebraico: desaforo, audácia, pretensão — alguém insignificante como eu pretender analisar o gênio literário de Amós Oz. Mas tenho certeza de que ele não vai se incomodar nem um pouco. Afinal de contas, também sou israelense, e chutzpah, todo mundo sabe, é nosso nome do meio. Ou o próprio Amós não teria ousado enfrentar de igual pra igual, e ainda por cima criticar, com apenas 20 anos de idade, o pai da pátria Ben Gurion. O capítulo de suas memórias dedicado a Ben Gurion, por sinal, é das melhores coisas do livro.

Dá pra ver o poderoso Leão de Judá ao vivo na nossa frente, e olhem que o vi bem de perto um par de vezes, em 1970, no kibutz Sde Boker onde ele morava na época. Chutzpah mesmo, e isso fica claro no livro, é Israel ter a audácia de existir — um enclave judeu no meio de um vasto mundo islâmico — e de insistir na sobrevivência. Não é de admirar que o criticado Irã volta e meia faça o país de alvo com suas bombinhas pacifistas.

É o processo de ver nascer e amadurecer — um país, uma língua, uma pessoa —, tendo sempre a verdade como linha de conduta, que faz a beleza destas memórias de Oz — De Amor e de Trevas — que acabei de ler ontem. Mesmo que a verdade mude, ou leve mais de quarenta anos para aparecer, ser enfrentada.

Sempre tenho a impressão de que há um tema que se infiltra, na mente inconsciente, por determinado período. E é este tema que me orienta, me emociona, me leva a escrever. O desta semana é a verdade, na literatura ou fora dela. Isabel Allende afirmou, em sua entrevista de ontem, que a verdade no texto é que emociona o leitor. Ultrapassa até mesmo a visão crítica, a pulsão pura e simples pela boa literatura: "Tento escrever com honestidade. E em meus 25 anos de carreira aprendi que a honestidade toca as pessoas."

Há honestidade em Amós Oz. Até mesmo a honestidade de confessar enganos, equívocos, verdades absolutas que mudam com o tempo, e que só com o tempo se consegue expor. Há um desejo latente de verdade honesta no público, como informa Guiomar de Grammont, curadora do Botequim Filosófico na Bienal do Rio: "É a vontade da verdade contra a aparência e o discurso demagógico."

Há vontade de verdade na decadência pública de celebridades sem substância alguma. Há vontade de verdade na onda de memórias que toma de assalto a literatura. Há vontade de verdade nos blogs, na transparência forçada da internet. Mesmo que a verdade custe um pouco a aparecer. Ou a ser engolida, porque sim, há um hábito arraigado de formalismo, de comportamento adequado, do que se pode e não se pode fazer no caminho da aceitação pública. Ou, pelo menos, social, o que por vezes atrasa um bocado a revelação da verdade (e o alívio que isto traz). Mas nunca a elimina.

E se vocês pensam que com esta empáfia toda de dona da verdade é com o gênio de Oz que me identifico, se enganam. Me identifico mesmo é com o pai dele, um sujeito talentoso e brilhante com tudo pra vencer na vida mas que, vítima da síndrome geracional que o impediu de abrir o jogo, pôr as cartas na mesa, fracassou assim mesmo. É contra isso que eu luto todo dia, mesmo ao custo de uma imagem inútil, construída, falsificada. Que em última instância não serve pra nada.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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