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Feminismo e literatura

por Fernanda Massebeuf *
publicado em 20/08/2007.

Por que a ciência nos é inútil?
Porque somos excluídas dos cargos públicos.
E por que somos excluídas dos cargos públicos?
Porque não temos ciência.

Nísia Floresta

Uma mulher liberada é aquela que tem sexo antes do casamento e um trabalho depois.
Glória Steinem


O tabu do feminismo

O feminismo evoca a igualdade de direitos e status entre homens e mulheres. Existe no Brasil uma forte resistência a essa palavra devido às derrotas do movimento, que apesar disso proporcionou conquistas consideráveis às mulheres como o direito de frequentar universidades, escolher profissão, trabalhar, votar, tudo que fora um dia mera utopia. Em contrapartida, permitir que a palavra seja envolvida por preconceito e que grande parte das mulheres sinta um certo desconforto em relação a ela pode ser considerado com derrota desse movimento, ao ponto de desencadear um antifeminismo que deu a palavra feminismo conotação pejorativa, evocando a mulher mal amada, machona, feia e nenhum pouco feminina. Além disso as novas gerações ignoram o percurso histórico das mulheres que mais se destacaram em prol do movimento feminista no Brasil.

Primeiros passos rumo à literatura

No século XIX viviam isoladas do mundo masculino, recolhidas num mar de preconceitos e ignorância que as privava do direito primordial de instrução, reservado unicamente aos homens. Em relação a esse tópico Zahidé Muzart afirma que no século XIX as mulheres que escreveram, que desejaram ter uma profissão de escritoras, eram feministas, pois só o desejo de sair do fechamento doméstico já indicava uma cabeça pensante e um desejo de subversão. E eram ligadas à literatura. Então, na origem, a literatura feminina no Brasil esteve ligada sempre a um feminismo incipiente.

Nessa época Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) foi pioneira no domínio literário quando lançou Direitos das mulherres e injustiça dos homens, em 1832, no qual tratava o direito das mulheres ao trabalho e à instrução. Ela dizia que mulheres e homens são diferentes no corpo, mas não na alma. Mais tarde ela vai abordar o tema da educação com o intuito de tirar as mulheres da ignorância e ociosidade.

Anos mais tarde vão surgir os primeiros jornais dirigidos por mulheres, considerados como imprensa secundária por serem dirigidos ao segundo sexo. O Jornal das Senhoras foi lançado em 1852 com o intuito de incitar as mulheres a se cultivarem afim de adquirirem emancipação social e moral. Em seguida, O Belo Sexo em 1862 apoiava o deslanchamento intelectual feminino.

Instrução e eleições

Em 1870 viveu-se um período considerado mais jornalístico que literário devido ao grande número de jornais e revistas feministas publicados. O Sexo Feminino causou furor por insistir no propósito de que o maior inimigo das mulherres era a ignorância de seus direitos. Já o Echo das Damas e o Jornal das Damas traziam artigos que promoviam o ensino superior e o trabalho remunerado a partir de idéias como: a dependência econômica determina a subjugação.

Em 1878, Josefina Alves encena a peça O voto feminino, que faz dela pioneira na defesa do voto feminino. Inúmeros jornais e revistas além de divulgar ideais femininos, tornaram-se veículo de expressão para a literatura escrita por mulheres, tendo exercido ainda função conscientizadora, catártica, psicoterápica, pedagógica e de lazer, segundo Dulcídia Buitoni.

Cidadania

Direito ao voto, ingresso à universidade e ao mercado de trabalho são as reivindicações das mulheres no início do século XX. Bertha Lutz (1894-1976) vai se tornar um dos nomes de maior expressão no âmbito feminino através de artigos escritos na Revista da Semana, debates e conferências. Com o apoio de Maria Lacerda de Moura (1887-1945), escritora lúcida e engajada, enfrentou a sociedade dos anos 20. Em 1922 Ercília Nogueira Cobra lança o polêmico Virgindade inútil- novela de uma revoltada, onde discute a exploração sexual e trabalhista da mulher. Mais tarde escreveu outra sobras de mesmo teor polêmico sendo até perseguida pelo Estado Novo, sistema político vigente. Diva Nolf lança Voto feminino e feminismo e Bertha Lutz reaparece no cenário literário ao lançar o Manifesto Feminista contando com o apoio de várias colaboradoras.

Com o passar dos anos foi possível eleger a primeira prefeita, Alzira Soriano (1897-1963), em 1929, em Lajes, Santa Catarina.

Apenas em 1930 as mulheres adquirem direito ao voto.

No âmbito literário as mulheres também se destacavam. Em 1921, Rosalina Coelho Lisboa ( 1900-1975) conquista o primeiro prêmio no concurso literário da Academia Brasileira de Letras com o livro Rito pagão; Gilka Machado lança um livro de poesia erótica, Meu glorioso pecado, escandalisando a moral sexual patrarcal e cristã. Mariana Coelho publica A evolução do feminismo: subsídios para sua história, em 1933, o que representou importante contribuição à história intelectual da mulher brasileira. Raquel de queiroz também merece destaque por ter praticipado do processo de emancipação da mulher brasileira colocando-se à frente de seu tempo através de sua obra literária, onde as personagens representavam vários aspectos da condição feminina. Ela inaugura a Academia Brasileira de Letras em 1977.

Revolução sexual e literatura


Os anos setenta marcam o empenho das mulheres com a criação do Ano Internacional das Mulheres em 1975 e o 8 de março é de clarado Dia Internacional da Mulher por iniciativa da ONU. No Brasil, além do combate contra a discriminação do sexo e igualdade de direitos, ditadura militar, censura, anistia e melhores condições de vida também faziam parte das reivindicações femininas. Além disso houveram polêmicos debates sobre o aborto e o sexo. As brasileiras começam a separar o sexo da maternidade, do amor e do compromisso. Nesse ano surge o jornal Brasil Mulher e o periódico Nós Mulheres. O Mulherio surge em São Paulo, no ano de 1981, engajado contra o racismo, a favor do sexo livre e apoiando as as mulheres das periferias, um pouco esquecidas pelo movimento feminista.

Rose Maria Muraro é muito atuante nese período fulcral feminista e ousou desenvolver uma pesquisa sobre a sexualidade da mulher brasileira, que ganha força e certa visibilidade ao ponto de começar a manifestar interesse pelas disputas eleitorais em pequena escala.

No meio literário merecem destaque escritoras que enfrentaram corajosamente a ditadura. Nélida Piñon comanda a redação do Manifesto dos 1000 contra a censura e pela democracia. Além dela Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Sônia Coutinho, Hilda Hilst, Helena Parente, Marina Colassanti, Lya Luft e muitas outras devem ser lembradas por serem gente de muita expressão no cenário brasileiro devido à reflexão que seus textos e personagens incitam nas leitoras acerca do papel da mulher na sociedade brasileira, seus direitos e reivindicações de visibilidade e atuação concreta no dia-a-dia do país e antes de tudo lutar para se encontrar e encontrar seu lugar no mundo sem sentir vergonha ou constrangimentos.

No início dos anos oitenta vão ser iniciados estudos sociais sobre a mulher e tudo o que se refere ao seu universo, seguindo-se o exemplo do que ocorria nos Estados Unidos e na Europa, impulsionando a publicação de trabalhos afim de preencher as lacunas bibliográficas no que se refere à mulher.

Nesse contexto destacamos a poesia de Hilda Hilst por evidenciar a forçal do feminino no universo contemporâneo enquanto princípio, meio e fim de tudo. Através de uma escritura moderna a autora nos convida a buscar o verdadeiro sentido de nossas existências, a nos encontrarmos, a irmos além das aparências. Ela privilegia a temática do corpo em sua poesia, o que faz Béatrice Didier (1991) dizer que a escritura feminina é a escritura do "de dentro" - o interior do corpo, o interior da casa. Escritura do retorno a esse "de dentro" é a nostalgia da Mãe [la mère], do mar [la mer - palavras que têm a mesma pronúncia em francês]. O grande ciclo é o ciclo do eterno retorno. Dessa maneira, a escritura feminina pode ser a busca de um território no qual às vezes se confundem o tempo, o espaço, a carne, a memória, a experiência de vida e de morte. A autora se serve do erotismo, com o sentido elevado de transcendêcia da sexualidade, de comunhão iniciada no corpo para atingir o Absoluto, e também da morte, com o sentido de renascimento, que põe em voga a imortalidade da alma e a eterna busca de Deus.

Simultâneamente à produção literária das mulheres brasileiras, no resto do mundo fazia-se eco uma escritura e um trabalho engajados com a causa feminina, do qual Betty Friedan (1921-2006) estava à frente nos Estados Unidos. Fundadora do Movimento Feminista Americano, após o sucesso do lançamento da Mulher mistificada (1963), obra que interroga e reavalia o papel das mulheres na sociedade americana. Friedan pregava um feminismo moderado, visando maior igualdade dos sexos e dos direitos adquiridos pela mulheres, sem, para isso, se posicionar contra os homens. Podemos citar outra americana, Susan Sontag, autora do livro erótico O amante do vulcão, como ativista feminista de renome mundial.

Na Inglaterra, Germaine Greer (1939), atriz, animadora de tv, roteirista é consagrada como autora com o lançamento da Mulher Eunuca, através de uma escrita agressiva e provovcante afim de mostrar cruamente às mulheres suas realidades ao transformar aspectos negativos em construtivos.

Na França, Marguerite Duras ou Hélène Cixous estão em voga, por serem ambas escritoras em busca da língua do imediato, essa língua do corpo e da alma. Cixous nos propõe mesmo uma língua bem próxima do instante, por isso quase efêmera, onde se confondem vida e escritura, onde o saber intelectual se une ao saber do corpo, onde o ser sempre aparece em movimento, em mutação. Então ela diz que escrever é um suicídio constante. Um livro tem tudo de um suicídio, exceto seu desfecho.

Duras, em Ecrire diz que não se pode escrever sem a força do corpo. É necessário ser mais forte do que o que se escreve. É algo realmente engraçado. Não é somente a escritura o ato de escrever. São os gritos das criaturas da noite, o seu e o meu, os dos cães. E a vulgaridade massiva, desesperante da sociedade. Em sua obra, assim como Hilda Hilst, o amor, a vida e a morte são temas recorrentes. E revelam o indissociável elo entre a obra e o autobiográfico.

Sobre o Autor

Fernanda Massebeuf: Fernanda Massebeuf é graduada em LLCE (Língua, Literatura e Civilização Estrangeira) pela Universidade Sorbonne - Paris IV. Realiza atualmente um Master (Mestrado) a fim de se especializar em literatura brasileira, desenvolvendo estudo sobre a poesia de Hilda Hilst.

Email: ferdie45@hotmail.com

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