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História e memória: a feliz combinação

por Moacyr Scliar *
publicado em 19/12/2006.

Existe a História, com H maiúsculo, e existe a memória. Tendemos a pensar que são coisas diferentes: a História sendo objeto de estudo dos historiadores que a ela dedicam grossos tratados, e a memória gerando aquelas narrativas entre amigos ou familiares que começam com o clássico: "Eu ainda lembro que..."

Esta separação, contudo, é artificial. Há um momento em que a memória desemboca na História, confunde-se com ela; e aí as narrativas pessoais adquirem o caráter de testemunho vívido de momentos que tiveram importância na vida de uma comunidade, de uma região, de um país. Isto é o que acontece com a comunidade judaica. Os judeus estiveram presentes na História do Brasil desde, praticamente, o descobrimento pelos portugueses; como cristãos-novos, forneceram alguns dos primeiros médicos, dos primeiros intelectuais, dos primeiros empreendedores. Este grupo praticamente desapareceu depois que o marquês de Pombal, governante modernizador, decretou a igualdade entre cristãos-novos e cristãos-velhos, facilitando a assimilação dos primeiros. Mas sucessivos movimentos migratórios de ashkenazim e sefaradim foram, aos poucos, constituindo a comunidade judaica brasileira. Uma trajetória suficientemente longa para que possa ser contemplada com perspectiva histórica mas que, felizmente, ainda pode contar com vívidos relatos pessoais.

Neste Judeus da Leopoldina, Heliete Vaitsman, jornalista e tradutora, mostra, de forma verdadeiramente inspirada, como História e memória se completam naquela que foi uma das experiências mais interessantes e emocionantes da presença judaica no Brasil. Uma experiência que teve como cenário o subúrbio carioca, um reduto da brasilidade e que serviu, para os imigrantes, como porta de entrada para uma nova vida. O período abrangido pelo livro, a primeira metade do século XX, foi, para o Brasil, para o mundo e para o judaísmo, verdadeiramente transcendente, quando não trágico. Inclui a Revolução Russa, a ascensão do nazifascismo, a era Vargas, a Segunda Guerra Mundial; inclui o Holocausto e a criação do Estado de Israel. Tudo isto repercutiu na vida dos moradores da Leopoldina, como mostram os fascinantes depoimentos, colhidos por uma equipe multidisciplinar. Os depoimentos são ilustrados por fotos e ensejam comentários que resultam numa magnífica síntese da experiência da imigração em nosso país.

Uma experiência que incluía, em primeiro lugar, exaustivo trabalho. Os imigrantes eram pobres, muito pobres, e tinham de lutar pela sobrevivência. Muitos deles eram clientelchiks, os vendedores ambulantes que, com seu sistema, precederam os modernos crediários; ou tinham pequenas lojas (móveis, eletrodomésticos). A solidariedade grupal desempenhou um papel importante, sobretudo porque baseada nos tradicionais valores judaicos. O livro nos fala da escola, dos clubes judaicos, das publicações, das sinagogas, dos vívidos debates sobre sionismo e militância política. Não faltam passagens comoventes e até cômicas. Heliete conta o que aconteceu quando um menino foi registrado. O pai queria dar-lhe o nome do avô, o velho alter Moishe, e disse isso ao escrevente, que, na tentativa de ajudar, acabou transformando alter Moishe em Altamiro.

Judeus da Leopoldina representa uma grande contribuição para a história do judaísmo no Brasil. Mérito da autora e daqueles que a ajudaram; mérito do Museu Judaico do Rio de Janeiro, que promoveu as entrevistas das quais resultou a obra. Como diz o presidente Max Nahmias, na apresentação, ela é também um estímulo para novas pesquisas nesta área. E é uma forma de preservar os valores do povo judeu que, em sua longa e não raro atormentada existência, transformou-se em um guardião da história da humanidade.

Sobre o Autor

Moacyr Scliar: Nasceu em Porto Alegre, em 1937. É formado em medicina, profissão que exerce até hoje. Autor de uma vasta obra que abrange conto, romance, literatura juvenil, crônica e ensaio, recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988 e 1993), o APCA (1989) e o Casa de las Americas (1989). Já teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro.

O centauro no jardim, A majestade do Xingu, A mulher que escreveu a Bíblia e Contos reunidos são alguns dos livros marcantes de sua vasta obra literária, que soma hoje mais de 70 títulos publicados. Entre os recentes, destacam-se o romance Na noite do ventre, o diamante e o juvenil Um menino chamado Moisés, uma reconstituição imaginária da infância do famoso personagem bíblico.

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