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RESENHAS

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Indagações sobre uma questão sensível

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Um relançamento da Editora UNICAMP. Os textos aqui reunidos propõem a abordagem de questões sensíveis à reflexão sobre as sociedades hoje: Memória e (Res)sentimento. A indagação inicial está em pensar a memória histórica (e o esquecimento) e como a sua existência (voluntária ou não). Reúne textos de pesquisadores que se dedicam ao estudo dos sentimentos e paixões dos homens, nos âmbitos social e político, e das relações entre memória e história. Das formas como a história se relaciona com a memória, a lembrança e o esquecimento, desdobrou-se a temática do ressentimento, componente importante nas ações dos homens.

Memórias e (Res)Sentimento: indagações sobre uma questão sensível resulta do instigante encontro de um conjunto de pesquisadores que, mantendo contato desde o início dos anos 1990, vêm se dedicando ao estudo dos sentimentos e paixões dos homens, nos âmbitos social e político, e das relações entre memórias e história. Os textos aqui reunidos foram objeto de debate no colóquio realizado na UNICAMP em maio - junho de 2000, proposto e coordenado por Stella Bresciani (UNICAMP) e Claudinei Haroche (CNRs), como realização conjunta dos professores que integram o Núcleo História e Linguagens Políticas: Razão, Sentimentos e Sensibilidades.

Das complexas relações entre memória e história, ou melhor, das formas como a história se relaciona com a memória, lembrança e o esquecimento, desdobrou-se a temática do ressentimento componente importante nas ações dos homens, (In)visível e nem sempre discernível e reconhecido na construção de identidades, tanto grupais e/ou minoritárias como nacionais, assim como nos atos de rememoração e, mesmo, comemoração. Sentimentos e ressentimentos que alimentam o conjunto de representações e imaginário construído pelos homens sobre as sociedades em que vivem, assim como sobre aquelas que lhes são estranhas.

Pierre Ansart, inspiração marcante, ao longo desses anos de estudo e colaboração, e presença estimulante no colóquio, assim se expressou em seu encerramento: "Mémoire et ressentiment átait, assurément, um thème audacieux et risqué. Question sensible, comme l´indiquait le soustitre; et aussi très vaste - sujet océanique, selon l´expression de Freud - , sujet sans limite où l´on risquait de se perde ou de sombrer dans les approximations. Ce pouvait être aussi une boîte de Pandore d´où sortent les serpents et les menaces de toutes sortes".

Caixa de Pandora que, como outras, é preciso reconhecer, enfrentar e tomar como objeto de reflexão.

Sensibilidades, emoções, sentimentos e ressentimentos, suas contradições com a razão, conscientemente buscados ou, por qualquer motivo, tocados pela memória, sua efetividade nas ações dos homens, tanto cotidianas quanto memoráveis (quaisquer que sejam os motivos ou escolhas) - questões sensíveis.

Apresentação

Memórias e (res)sentimentos: duas dimensões inefáveis da condição humana quando não somos induzidos ou constrangidos a expor por meio da linguagem, ou melhor, das linguagens, aquilo que guardamos no mais recôndito de nosso foro íntimo. Não pensamos aqui somente na comunicação voluntária de experiências ou na prática da transmissão oral de lendas e tradições entre populações, o mas das vezes iletradas; a preocupação maior busca também o avesso da face historicamente datada da obrigação à memória, essa memória voluntária construída como estratégia de luta política, afirmação positiva de identidade pelos que se vêem excluídos dos direitos à cidadania; remoção dolorosa, mas não menos afirmativa, de perseguições políticas, religiosas, étnicas, por vezes acompanhadas de praticas violentas de genocídio. Como separasses memórias de sentimentos negativos, humilhações, afetos ressentidos, rancores e desejos de vingança das evocações da parte sombria, inquietante e freqüentemente terrífica da história?

No colóquio Memória e (res)sentimento: Indagações sobre uma Questão Sensível, aceitamos adentrar uma dimensão que exige de nós, historiadores, filósofos, literatos, cientistas sociais, o abandono de antigas verdade e da segurança proporcionada por modos de pensar confortáveis em seu acordo prévio com certezas há muito sedimentadas, afirmações que se tornam lugares-comuns. Aceitamos o desafio de enfrentar uma viagem manos segura: a de percorrer temas complexos que exigem, para serem explorados, a modéstia, ou talvez seu oposto, a pretensão do exercício interdisciplinar que indaga, duvida e se aventura em tarefas de desconstrução de moradas do saber, nem sempre recompensado por uma nova edificação.

A questão da memória, com freqüência relacionada aos (res)sentimentos, surgiu em meio a uma conversa sobre nossas insatisfações com certas formas consagradas de percorrer temas da historiografia. O ressentimento, enquanto tema de reflexão proposto por Claudinei Haroche, foi imediatamente assumido por vários dos componentes do Núcleo de História de Linguagens políticas: Razão, Sentimentos e Sensibilidades, com sede no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, merecendo de Jacy Seixas a lembrança do papel crucial desempenhado pela memória, especialmente a involuntária, nos sentimentos que antecedem a elaboração de representações de forte teor simbólico e estímulo emocional. Assim, em algumas conversas sucessivas, a questão dos elos entre memória e esse sentimento negativo e mal resolvido, motivador da inércia, mas também desencadeador de atitudes afirmativas, foi se desdobrando em múltiplas direções: a das relações entre os afetos e o político, entre os sujeitos individuais, sua afetividade e as prática sociais; a da construção de identidades pessoais, de grupos e de nações, identidades densamente alimentadas, cultivadas e acalentadas por cargas afetivas; a da polissemia das palavras, seu uso abusivo, sua âncora cultural ou farol iluminador de modos de sentir diversos do nosso; a das construções intelectuais de ampla acolhida pelo público leitor, aprisionadoras do subversivo ato de divergir.

Sem dúvida, nossa trajetória começa pelo reconhecimento de trilharmos o mesmo campo de trabalho do pensamento que ousamos criticar. Começamos por aceitar a tarefa de conceituar as noções com as quais trabalharíamos. Foi essa a incumbência aceita e enfrentada por Pierre Ansart, a quem devemos as indagações que vêm sendo o estímulo maior de nosso intercâmbio, já ao longo de mais de dez anos: a questão dos sentimentos na política, sua percepção e sobretudo sua gestão. David Konstan se encarregou de indagar da pertinência da noção de ressentimento em épocas muito anteriores e em culturas diferentes da nossa. Jacy Seixas, sempre intrigada coma maneira pela qual a história se assenhorou da memória, foi em busca do campo teórico dessa outra memória, a da tradição vivida, relembrada e atualizada no eterno presente vulnerável, afetiva, múltipla e por vezes evanescente como o lampejo de uma sombra fugidia. Memória sediada nessa zona cinzenta de difícil apreensão situada nos limites do intangível, como diz Claudinei Haroche ao se referir aos mecanismos políticos que se suscitam e encorajam ou toleram um certo tipo de valores, sentimentos e traços de personalidade que se perseguem objetivos muitas vezes insidiosos, quando não explicitamente violentos.

Há anos, historiadores, literatos e cientistas sociais têm se dedicado à apreensão da memória-faculdade intelectual, memória-conhecimento, cujas raízes se sintam sólidas e longas no pensamento ocidental; memória que se submete á história e a ela oferece suporte documental importante para suas narrativas. História, por sua vez, alcançada à condição de senhora da memória, de produtora de memórias, de uma memória historicizada, que nos apresenta imagens de práticas políticas de demagogos, que desde Antigüidade Clássica conduzem multidões através do império das paixões (Murai). Memória-testemuho de questões políticas e éticas, de lembranças e questões dolorosas, sentimento de insignificância e de impotência individual, propiciadores de estados psicológicos inesperados, nefastos (Haroche), inenarráveis, cruéis, suicidas (Gagnebin). Memória que pode se desprender de eu referente, adquirindo em sua expressão discursiva um caráter delirante e ao mesmo tempo de eficácia terrível (Troca). Memórias que transitam pelo apagamento de outras memórias na afirmação impositiva de interpretação unívoca de acontecimentos e orientações políticas conflituosas, que por vezes se impõem na forma material de monumentos arquitetônicos (I. Marson, C.Salles Oliveira). Memórias ressentidas e expressas na forma ufanista de identidades específicas, trabalhadas também pela invenção das tradições (Pesavento, Maciel). Memórias que podem atuar como advertência e rememoração de derrotas nas quais a imagem dos vencidos assume a frente de cenários em ruínas (De Decca), mas que também encontram lugar na afirmação positiva do direito à cidadania por pessoas que, pela condição social e/ou idade cronológica, deveriam se recolher a um não-lugar (P. Salles Oliveira), ou que, por circunstâncias ocasionais da vida privada, vêem-lhe recusado o lugar privilegiado da cidadania (Borges).

Estamos certamente em face de memórias que se avizinham de sentimentos de rancor passivo e indefinidamente saciado, como postula Nietzsche. Prisioneiro da inveja e do ciúme, da raiva impotente ou da alegria nefasta, esse homem do ressentimento se vê devorado por uma memória intestina que o invade mesmo a contragosto, como lembra Zawadzki. O recalque da agressividade incapaz de exteriorizar afetos malfazejos pode, em sua dimensão obsessiva, trabalhar a memória de forma a estimular práticas violentas, irracionais, expressão de fúria incontrolável (M. Ansat), conquanto se preste também a acolher o sentimento esquizofrênico de recusa e aceitação, portador, já na Antigüidade, de garantias de condições social e política (Galvão). Recalque de sentimentos que entretanto se transmuta na recusa do esquecimento humilhante da exclusão que obriga ao exílio, físico e/ou psicológico, mas que pode fazer da fraqueza e da marginalidade sua fonte de força e estímulo ao desafio (B. Magalhães, Cancelli). Afetos assídua e detalhadamente trabalhados como ressentimentos identitários, étnicos, minoritários ou religiosos, expressos na discriminação negadora do formalismo da lei (Koubi) ou na condenação moral pela Igreja da modernidade laica (Déloye). Afestos trabalhos, ainda, de modo a constituir identidades nacionais fortemente ressentidas, instituindo diferenças dilacerantes, pois projetadas como intransponíveis, localizadas sempre no plano das linguagens simbólica, literária e historiografia, alimentadas contudo pelas certezas classificatórias da ciência ou do saber cientificista (Naxara, Bresciani, Vecchi).

Questão sensível a das memórias acorrentadas a ressentimentos. Questão delicada, pois nos obriga a explorar regiões e temas a que somos resistentes, parte da história dos ódios, dos fantasmas da morte, das hostilidades, ou do não-lugar dos excluídos e das identidades recalcadas. Sem duvida, lugar de humilhação, que porém, com freqüência se apoia na linguagem da resistência passiva ou da aquiescência indecorosa, cúmplice da humilhação imposta por repor sempre uma mesma imagem degradada, tal como faz parcela significativa dos trabalhos acadêmicos, que sediados na região privilegiada do saber competente, insistem em afirmar a condição menor de determinados grupos, etnias, nações.

Deixemos, entretanto, para o leitor o desafio prazeroso, esperamos, de percorrer as páginas da coletânea que reúne historiadores, sociólogos, antropólogos, filósofos, teóricos da literatura, para ajuizar sobre o resultado dessas viagens através das terras incertas da memória e dos ressentimentos. Sentimos não publicar os trabalhos de Leila Algranti e de Eugène Enriquez. Os textos dessa coletânea constituem a continuidade das reflexões apresentadas por ocasião do Colóquio Sentimentos e Identidades: os Paradoxos do Político, em maio de 1994, publicadas pela Editora da Universidade de Brasília (Razão e paixão na política, 2001), parte delas compondo o nº4 de Les cahiers du laboratoire de changement social (Université Paris 7, 1998).

Na organização do colóquio que deu origem a esta coletânea, tivemos o apoio incondicional, financeiro e acadêmico, de Celene M. Cruz e sua equipe da Pró-Reitoria de Extensão de Assuntos Comunitários da UNICAMP. Das agencias públicas FAPESP, CNPq e CAPES recebemos substancial apoio financeiro, que tornou viável a presença dos colegas de universidades do exterior e de outros estados brasileiros. O CNPq proporcionou também a possibilidade de vertemos para o francês os textos que serão publicados pela Universidade de Cergy-Pontoise. FAPESP e CNPq colaboraram ainda para concretizar esta publicação, que mereceu, é preciso lembrar, acolhimento especial da Editora da UNICAMP e de seus funcionários, que a editaram em tempo recorde. A FAEP deu suporte estratégico para a tradução dos textos de Lingua estrangeira, colaborando assim ativamente na edição da coletânia. A equipe organizadora é grata a todos os que, com sua presença nas sessões do colóquio, asseguraram um ambiente de acolhida crítica essencial aos objetivos do nosso grupo.


Stella Bresciani
Márcia Naxara

Campinas, 25 de maio de 2001.


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