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Já trabalhei que chega!

por Airo Zamoner *
publicado em 21/06/2006.

Basta parar num beco qualquer de Brasília – daqueles penumbrosos, de preferência nos meandros do Palácio do Planalto, o maior beco do país – e escutar. Será muito fácil ouvir algo assim:

– O companheiro não está entendendo. Tem que falar com o camarada que é cúmplice do confrade lá de Carapicuíba. Ele é nosso cupincha e sei que é conivente porque foi cooptado pelo compadre da consorte. Anda! Vai lá que tá limpo!

E por aí vai.

Foi-se o tempo em que companheiro era aquele que nos acompanhava amistosamente. Ou uma forma gentil de se referir a um amigo, até ao cônjuge. Hoje precisamos segurar a língua. Falou companheiro, já vão olhar torto para você e pensar que está metido em alguma tramóia, agora denominada maracutaia. Mas isto já é assunto para outro dia.

Foi-se também o tempo em que camarada era aquele amigo que só queria seu bem. Só vivia fazendo camaradagens para todos. Hoje camarada e companheiro são palavras que ficaram corrompidas por ideologias. Ideologias que se perderam ou se perderão no tempo.

Este rol de palavras poderia ser organizado em dois grupos.

No primeiro, apareceria companheiro, comparsa, cúmplice, cupincha, conivente, cooptado.

No segundo, colega, compadre, consorte, camarada. Não! Camarada já havia sido banida de nossas bocas no tempo negro da ditadura. Sim, porque se alguém pronunciasse esta palavra, certamente esconderia um exemplar de Das Kapital do velho Marx em sua casa e era, sem sombra de dúvida, muito suspeito. Poderia até ser preso e desaparecer para sempre. E para não desaparecer, teria que fazer uma bela plástica, trocar o nome e ir viver no interior do Paraná. Ficar lá quietinho, escondidinho, esperando a chuva passar, casar, ter filhos e esperar, esperar, esperar. E daí, era sair do casulo e fazer parte abundante do primeiro grupo. Aquele do companheiro, comparsa, cúmplice, cupincha, conivente, cooptado, lembram? Sendo assim, é melhor colocar a palavra camarada no grupo dos companheiros.

É isto que me aborrece hoje, entre muitas outras coisas. Fico aqui parado em meu espaço, olhando para o Anhangava, este morro que poderia ser meu companheiro, mas não é. Talvez seja meu camarada, mas não é. Quem sabe seja meu cúmplice. Mas cúmplice no bom sentido. Enfim, fico aqui olhando para ele, perguntando o que acha das transformações pelas quais passamos nestes anos todos, com estas palavras todas se espalhando por aí. O que ele acha destes tempos de avalanches de tecnologia invadindo nossas casas, nossos escritórios, nossos espaços. Sim, nossos espaços, porque virando um pouco a cabeça, meus olhos deixam de ver o Anhangava e enxergam três ou quatro torres enormes, faiscando ondas para todos os lados, para que nossos celulares se comuniquem. Estas torres são cupinchas, coniventes, cooptadas, mas são também companheiras. Tal e qual os companheiros que se vêem aos borbotões nas filas que se formam todos os dias e noites diante dos cofres subterrâneos da capital federal.

E por falar em cofres da capital federal, estamos em junho e graças ao bom Criador, já posso parar de falar bobagens e trabalhar para mim mesmo, porque para aqueles cofres eu já trabalhei que chega.

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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