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Na palma da mão, um veleiro

por Pablo Morenno *
publicado em 03/06/2006.

Lembro-me a primeira vez que vi a família dos Schürmann. Apareceu no Fantástico tripulando um veleiro imerso no oceano, singrando sem medo as águas mais distantes.

Começo esta crônica em 31/05/2006 e a última vez que soube da família Schürmann foi há pouco. Foi a última vez até hoje, e, por coincidência, exatamente hoje. Com certeza não será a última vez nos meios de comunicação. Saibam. Estou seguro. Dificilmente outra aparição dos Schürmann me impressionará mais intensamente.

A afirmação recém lançada deve ter deixado meus amigos de queixo caído. Encaixando a mandíbula, lerão novamente o parágrafo. Para mim, de forma alguma a aparição de hoje dos Schürmann poderia sobrepor-se àquela num barco ao vento no meio do mar.

Tenho paixão por veleiros. Sabendo de alguém em viagem, solicito um daqueles que encantam crianças em artesanatos de praia. Buscar o fio desse estranho sentimento tem sido em vão. Fui um menino do oeste; nascido, portanto, afastado da costa. Só lembro daquela música do Jessé, ressaca invadindo os ouvidos: “Se um veleiro repousasse na palma da minha mão...” Esse verso parece ser parte de cada música que toco. Até na missa preciso vigiar-me para não imiscui-lo no “Glória” ou no “Santo”.

Ficar dizendo que a primeira vez dos Schürmann não foi a mais marcante da memória, de mim, soa inautêntico. Possibilita em meus amigos a hipótese de um texto apócrifo, ou traço de alguma demência.

Conheci no Fantástico o barco dos Schürmann, havia visto suas velas oceânicas, nunca soubera da Kat. Só soube da existência da Kat hoje e, infelizmente, quando Kat deixou de existir no barco dos Schürmann. Kat, 13 anos, filha adotiva do casal Vilfredo e Heloísa, foi vítima de pneumonia e morreu ontem em São Paulo. A família divulgou uma nota, publicada hoje nos jornais: “Muitos não sabem, mas Kat era soropositiva desde que nasceu. A adotamos ainda pequena, na Nova Zelândia, sabendo de sua condição. Sua mãe já havia partido, e o pai viria a nos deixar anos depois. Sabíamos que seria muito difícil. [...] Mas não poderíamos deixar de dar uma chance àquele anjinho de lutar pela vida”.

Minha esposa e eu já pensamos em adoção. Nos consideramos de bom coração e razoável espiritualidade. Sou um homem com preocupações éticas, canto na missa. Nunca jamais imaginamos adotar uma criança aidética. Não somos os únicos. A maioria dos adotantes anseia por crianças de colo, brancas e, em qualquer caso, física e psicologicamente perfeitas. Adotar um bebê cuja probabilidade de morte é muito alta, embora a desconcertante exceção, não soa razoável.

Amigos, não duvidem de minha aparente contradição. Achar a notícia de hoje mais relevante que todas as passadas ou vindouras não demonstra traição com meu amor declarado a veleiros. Sempre vi ou verei os Schürmann distantes no oceano, em lugares onde nunca estive e, possivelmente, nunca estarei. Hoje, contudo, como naquela canção do Jessé, vi o veleiro dos Schürmann repousando na palma da minha mão. E apenas hoje entendi por que chegaram e ainda chegarão mais longe. Muito mais longe e sem medo.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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