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CHICO LOPES chega ao terceiro livro de ficção e diz: "Ninguém escreve para ser ignorado"

por .::. Verdes Trigos Cultural .::. *
publicado em 15/05/2006.

Autor procura editor para um terceiro livro, com o qual estréia nas narrativas longas neste 2006

Chico Lopes estreou como autor publicado em 2000 com o livro de contos "Nó de sombras" (contos, IMS/SP). Nascido em Novo Horizonte, SP, ele viveu nesta cidade até os 39 anos, quando se mudou para Poços de Caldas, MG. Em Novo Horizonte, havia ajudado a fundar e dirigir os jornais "A Cidade", "A Voz da Região" e "O Jornal" e ganhado notoriedade como pintor e desenhista, além de escrever seus primeiros trabalhos de ficção, poesia, ensaio e crítica de cinema, mas foi em Poços de Caldas, trabalhando como programador e apresentador do Cinevideoclube do Instituto Moreira Salles - Casa da Cultura, que publicou seu primeiro livro, "Nó de sombras", de contos, lançado pelo IMS. Com a boa acolhida da crítica e do público (a tiragem se esgotou), Lopes teve publicado em 2004 seu segundo livro de contos, "Dobras da noite", com uma acolhida ainda mais favorável da crítica e do público, e foi conquistando um sólido número de leitores e admiradores. Paralelamente, começou uma carreira de tradutor com "A volta do parafuso", de Henry James, em 2004 (edição bilíngüe/Landmark-SP), que teve prosseguimento com a tradução de contos norte-americanos clássicos (de Nathanael Hawthorne, Bret Harte e outros autores) para a antologia de Natal "Os mais belos contos de amor e esperança" (Prestígio Editorial/Ediouro, SP, 2005). No momento, trabalha numa terceira tradução. Além disso, seus artigos sobre cinema e livros vêm sendo publicados regularmente nos sites "Verdes Trigos" e "Cronópios". Militando nessas áreas, ele vem construindo sua carreira gradativamente.

Ele terminou seu terceiro livro de ficção, "Jogos furtivos", em que estréia nas narrativas mais longas, com duas novelas de mistério e angústia existencial. Falando deste e de outros assuntos, ele conversou com exclusividade para o "Verdes Trigos":

VERDES TRIGOS: Você estreou tardiamente na literatura, aos 48 anos, com o livro de contos "Nó de sombras", em 2000. Pode nos falar desse percurso?
CHICO LOPES - Vivendo sempre no interior, com as dificuldades de publicação que os escritores do interior bem conhecem, não poderia ser diferente. Mas, acrescente-se que eu tornei essa estréia tardia um tanto por excesso de autocrítica. Eu sempre escrevi, mas ficava com minhas coisas curtas, crônicas, poemas, artigos de jornal, críticas de cinema, achando sempre que a prosa de ficção era uma coisa difícil para mim.Escrevia contos e novelas com entusiasmo, mas rasgava-os com um entusiasmo idêntico. Conservei meus livros de poesia, crônica, ensaio, confissão e memória, feitos nos anos 80, mas escolhi ser um prosador, depois de muita meditação. Nunca tive pressa, nem poderia ter, devido ao meio. Isso foi de fato um longo processo. A publicação do meu primeiro livro de contos, com prefácio de Ignácio de Loyola Brandão e o patrocínio do Instituto Moreira Salles, foi um estímulo poderoso, algo que reforçou uma posição, uma espécie de divisor de águas em minha vida literária, que começara muito, muito antes.

VERDES TRIGOS : "Nó de sombras" pareceu abrir um universo próprio - o dos personagens atormentados, solitários, em ambientes sempre de cidade de interior, e com grande contribuição da memória, da nostalgia, que "Dobras da noite" veio aprofundar. As cidades do interior são o seu tema, ou ao menos seu cenário favorito?
CHICO LOPES - Eu diria que sim, e até por fatalismo, como no caso da estréia tardia. É o mundo que conheço - as pequenas e médias cidades do interior. Tenho pouca vivência metropolitana, mas percebo, com o passar do tempo, que isso nem chega a ser muito relevante: a questão é que, com a imaginação, podemos ir a qualquer lugar, criar qualquer coisa em literatura. Naturalmente, falaremos sempre melhor do que conhecemos de perto, na carne. Mas, ninguém nos impede de voar, de jeito nenhum. E, aliás, quem se apega demais às "raízes", como se diz, corre o risco de não sair do chão.

Eu procuro um interior universalizado, e vejo, hoje em dia, que as cidades, todas, acabam tendo um ar muito parecido: no interior, ambiciona-se, de maneira até mesmo ingênua demais, um certo verniz metropolitano - de modo que tudo se uniformiza, e o mundo, para bem e mal, não consegue mais ser provinciano. De modo que mal existe essa coisa chamada "regionalismo", nem pode existir: o escritor está fadado a abraçar todas as geografias e possibilidades. A literatura brasileira dos últimos anos é eminentemente urbana, seja de metrópoles ou de cidades menores, ninguém pode negar. Quase não se faz mais histórias desenroladas em cenários rurais ou bucólicos.

Tendo vivido, até aqui, 39 anos em Novo Horizonte, e mais 14 em Poços de Caldas, como é que não escreveria com atmosfera interiorana, ainda que universalizante? Mas, nunca fui um interiorano típico. Até por excesso de imaginação, e também viajei o que pude, li muito, li demais, mantive correspondência décadas a fio com gente de outros lugares.

VERDES TRIGOS: Nos contos dos seus dois primeiros livros, um olhar mais atento pode revelar uma espécie de novelista ou romancista latente. Porque são contos maiores, mais longos, que os da maioria dos escritores atuais, e há personagens secundários bastante enigmáticos. Portanto, você chega ao terceiro livro com uma lógica gradativa, escrevendo histórias mais longas...Fale disso.
CHICO LOPES - É isso mesmo. Eu nunca senti que tinha a obrigação de escrever um romance, mas gosto do formato da novela, tradicionalmente "grande demais para ser um conto, curta demais para ser um romance". Grandes coisas foram escritas nesse formato, como "A volta do parafuso", de James, "O alienista", de Machado, "A morte de Ivan Illich", de Tolstoi, para ficar só nos clássicos. Meu terceiro livro, "Jogos furtivos" (o título é provisório) reúne duas novelas. Não é um formato comum no mercado, mas dá um livro de 160 páginas, dentro dos padrões dos livros de ficção de hoje em dia. Não me sinto capaz de romances, ainda. Mas, pouco a pouco, percebo que quero respirar mais largo, que vou querer, num certo momento, trocar o riacho (o conto) pelo rio grande, com muitos afluentes (o romance), ou o desenho micro, intimista, pelo mosaico, pela tela grande. Deixarei que isso aconteça naturalmente, aliás, como tudo em minha vida. Não cederei ao formato romance só por pressões do mercado editorial, que o tem como favorito. Não vejo nobreza superior em nenhuma espécie de gênero. Todos os gêneros me parecem igualmente nobres e válidos, e, aliás, esta discussão é estéril, é um falso problema. "Art happens", seja onde for.

VERDES TRIGOS: De que trata "Jogos furtivos"?
CHICO LOPES - Na primeira história, tudo gira em torno de certo personagem feminino; na segunda, de um personagem masculino. Basicamente, são duas novelas de perseguição, de paixão e paranóia. Um homem se enreda com um perseguidor e uma mulher persegue um homem. Há um erotismo desesperado, que pode mesmo chegar ao delírio. Gosto de personagens assim, extremos. Não me interesso por gente "normal", e aliás, personagens "normais" são um decreto de morte para a imaginação.

VERDES TRIGOS: Como e quando nasceu o Chico Lopes tradutor?
CHICO LOPES - Eu fazia traduções de letras de música nos anos 60. Sabe o que me deixou fascinado, no início? A capa do disco "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band", dos Beatles. Queria entender, traduzir aquilo. Envolvi-me com o Inglês de forma autodidata e me aperfeiçoei tanto que até dei aulas particulares do idioma. Um dia, na casa de um amigo, peguei um livro de Carson McCullers, "The heart is a lonely hunter", assim, no original. Comecei a traduzi-lo, a meu modo, com meus conhecimentos, ainda limitados, naturalmente. Naquele momento, senti que poderia dar para a coisa. Mais tarde, um de meus livros de cabeceira, obsessivamente, era "A volta do parafuso", de Henry James, e eu achava que poderia traduzi-lo um dia, talvez. Passaram-se décadas, e em 2004 fui contratado para traduzi-lo por uma editora de São Paulo. Não parece predestinação? Minha vida é cheia de coisas assim...

Um livro que me seduziu, há muito tempo atrás, tratando um pouco desse tema, foi "A arte no horizonte do provável", de Haroldo de Campos. Num capítulo, creio que se falava da tradução criativa. Nunca me esqueci daquelas lições. E acho que é isso que pratico - a tradução do modo mais fiel e passional possível, como recriação, quase como co-autoria. Admiro José Paulo Paes, que fazia isso muito bem, no campo da poesia. O Brasil sempre teve muitos bons tradutores, aliás, injustamente pouco conhecidos.

VERDES TRIGOS : Você ficou satisfeito com seu segundo livro, "Dobras da noite"?
CHICO LOPES - Sim, muito. "Nó de sombras" teve reconhecimento da crítica e do público e me trouxe admiradores, e creio que andava bastante nervoso com a perspectiva do segundo livro, que é um fantasma tradicional para quem foi bem com um primeiro. Mas, creio que tudo que se concentrava e prometia em "Nó de sombras" se abriu e expandiu em "Dobras da noite", um livro em que pus uma dose de emotividade absurda, contando muito mais de mim. E querendo, paradoxalmente, atingir funduras universais. Gosto de tudo nele, a partir da epígrafe, que escolhi a dedo, do "Cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rilke, e que tem a ver com os personagens de um dos contos, "Trio". A meu ver, "Dobras..." se amarra com uma lógica visceral, e me leva diretamente para esse domínio em que entrei depois, das novelas, com o "Jogos furtivos", que espero poder publicar neste ano.

VERDES TRIGOS: Como vê os novos autores, a literatura brasileira atual? Como vê o mercado editorial e as perspectivas para quem quer publicar?
CHICO LOPES - Nelson de Oliveira me fez um grande bem como escritor e amigo, quando lancei "Nó de sombras": achou que eu andava pessimista demais e que precisava conhecer o que andava se escrevendo de novo no Brasil. Apresentou-me gente da "Geração 90". E, na verdade, há gente muito talentosa nessa turma: ele, Nelson, Ivana Arruda Leite, Marcelino Freire, Marçal Aquino...Gosto da poesia do Carpinejar e de um poeta que acho maravilhoso, de Juiz de Fora, o Iacyr Anderson Freitas. Em Brasília há Ronaldo Cagiano, Rosângela Vieira Rocha...Parece-me que por toda parte há talentos em ebulição, promessas, confirmações. Não estamos tão mal como certas pessoas tendem a ver. O que nos faz sofrer, de fato, é o aspecto da publicação, um verdadeiro suplício...Ninguém escreve para ser ignorado, mas há mil problemas, de distribuição, de tudo...É difícil comover editores para livros que não parecem ir direto ao gosto do público. Mas, é preciso persistir, criar novas formas de leitura, acreditar que editores mais sensíveis e antenados devem existir por aí, explodir com o convencionalismo, a literatura de mera bajulação, a praga dos livros apenas tônicos, bobinhos e humorísticos. Novos leitores estão surgindo. E a Internet, com sites como o "Verdes Trigos" e outros de literatura, tem um papel fundamental na formação desse novo público.

Nota - Verdes Trigos: Os livros de Chico Lopes, "Nó de sombras" e "Dobras da noite", foram editados pelo IMS-SP, e o segundo está à venda, pelo site www.ims.com.br

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