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PAPEL IMPRENSA

por Miguel Sanches Neto *
publicado em 21/04/2006.

1.
Não há espaço para a poesia nos jornais diários, mas a poesia ainda ama o papel imprensa.

Ele então rabisca poemas ao lado das matérias de política e economia.


2.
Nas margens dos jornais usados para embrulho na cerealista de meu pai, fazíamos anotações mínimas, borrando as notícias do dia.

Do dia de ontem.


3.
Num jornal, todos os espaços em branco são potenciais colunas do leitor.
E nem é preciso mandar cartas para a redação.

4.
Deixe um jornal sobre a mesa, ao lado de uma caneta. Todos sentirão o impulso infantil de rasurá-lo.

5.
O jornal é a cidade, com seus prédios, sua população e principalmente seus letreiros.

Escrever em suas páginas como quem picha paredes.

6.
Os jornais diários deveriam deixar imensas áreas em branco para que o leitor manifestasse opiniões íntimas.

Infelizmente, apenas os jornais de cultura cultivam os campos sem impressão. Nesses, no entanto, as matérias não despertam a vontade de escrever.

6.
Em nosso jornalismo, as palavras cruzadas são as únicas áreas destinadas à escrita do leitor. Mas ele deve apenas descobrir os termos implícitos.

Tento em vão preencher as palavras cruzadas com os nomes das mulheres que um dia amei.

7.
Imprimir um jornal inteiro apenas com os títulos das matérias – os imensos espaços vazios deveriam ser povoados pela imaginação de quem lê.

Estaríamos inventando o jornalismo realmente personalizado.

8.
Gastamos em média três vezes mais tempo para ler um jornal em branco. Se tivermos uma caneta, este tempo poderá ser muito maior.

9.
Num jornal, o cheiro de tinta fresca já justifica a sua existência. Não precisa nem ser lido. Folheamos as páginas, aspirando este aroma industrial e depois de descartar os cadernos, dedos úmidos de tinta, deixamos nossas digitais nos livros, nos móveis e na roupa.

Nossa existência sujando-se de vida.

10.
O poeta pobre publica poemas na página dos classificados.

“Ao pagar por letra, entendemos o sentido da síntese”, ele explica.

11.
Muitos guardam matérias de jornais, ele prefere recortar apenas as palavras bonitas.

Tem uma coleção desorganizada delas na gaveta da escrivaninha.

No futuro, formarão, sozinhas, um texto-resumo de seus dias de leituras jornalísticas.

12.
Estava reformando o apartamento. Os pintores forraram as janelas com jornais velhos, para não borrá-las de tinta. Passou o fim de semana em casa e se sentiu mais perto da cidade ao olhá-la pelas páginas impressas.

13.
Em três semanas seguidas, publicou a mesma crônica. Alguns leitores reclamaram que o cronista estava se repetindo demais. Ele se justificou:

“Não perceberam que na segunda vez cortei um artigo desnecessário e que, na seguinte, acrescentei um par de vírgulas. Como podem falar em repetição?”

14.
Antes, sua semana começava quando ele se lia na segunda-feira. Agora, sua semana termina quando se lê no sábado. Ao mudarem o dia de sua crônica alteraram definitivamente o seu calendário.

15.
Na infância, gostava de queimar uma folha de jornal em lugar sem vento. Nas sobras frágeis e carbonizadas, ainda dava para ler trechos das matérias, como se fossem fragmentos de um tempo há muito desaparecido.

16.

Publica seus poemas apenas em jornais.

No dia seguinte já são inscrições imemoriais.

Sobre o Autor

Miguel Sanches Neto: Escritor paranaense e crítico literário, assinando coluna semanal no maior diário do Paraná, a Gazeta Povo (Curitiba), tendo publicado só neste jornal mais de 350 artigos sobre literatura, fora as contribuições para outros veículos, como República e Bravo!, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo) e Poesia Sempre e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro).

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