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A entrevista que está para acontecer

por José Aloise Bahia *
publicado em 29/12/2005.

Vai ano, entra ano, e é a mesma ladainha de sempre. Nesta semana bicuda, o telefone não pára de tocar. A última ligação foi do Zé. Pelo tom inicial do bate-papo, parecia ser aquele mesmo Zé de sempre. Entretanto, senti alguma coisa diferente no seu discurso. O cara deu uma guinada na conversa. Nunca imaginara que ele fosse recorrer ao bispo. Fiquei espantado, pois, a princípio, pensei que estava escutando um fantasma, mas logo vi aonde ele queria chegar. Eis parte da nossa conversa:

ZÉ: Ocê sabe que eu sou mineiro como ocê, e tenho a informação que o cardeal de Belo Horizonte tá indo para Roma.
EU: É verdade.
ZÉ: Tô acompanhando o processo de beatificação do Padre Eustáquio.
EU: Uai Zé, ocê agora virou religioso?
ZÉ: Pois é homem de Deus, o tempo faz a gente rever um punhado de coisas.
EU: Pelo menos isso né Zé.
ZÉ: Eu quero te pedir um favor.
EU: Diga lá.
ZÉ: Tenho uma cartinha aqui para o Bento XVI. Como você é amigo do cardeal...
EU: O Zé, ocê não quer pôr o papa nessa jogada, né!? Quer dizer, nessa enrascada!?
ZÉ: Não, claro que não! É uma simples carta de um brasileiro. Agora, tem que ser um encontro meio sigiloso: eu, você e o cardeal.
EU: Mais Zé, ocê quer fazer um pedido para o papa via cardeal?
ZÉ: É mais ou menos isso. Pois, tô preocupado com o ano de 2006.
EU: Já sei! Ocê tá é preocupado com as eleições. Mas, ocê não falou que nunca mais mexerá com política?
ZÉ: Sim, claro! Mas, a preocupação é com um amigo que ficou.
EU: Já sei: o Luís Inácio!
ZÉ: Esse mesmo. O negócio é o seguinte...

O Zé pediu-me sigilo sobre o restante da conversa. Mas, vem surpresa por aí... Surpresas que os leitores nem imaginam para 2006... Como aconteceram em 2005... Engraçado, de uns tempos pra cá, o Zé tem me ligado quase todo o santo dia. Tornou-se um cara insistente. Acredito que esteja meio solitário. Eu sou um dos poucos que sobrou, e estou dando a atenção necessária para o Zé. Também na minha profissão - psiquiatra clínico -, a gente acaba dando os ouvidos para todos aqueles que clamam neste vale de lágrimas. São os ossos do ofício.

Passei o ano de 2005 escutando cada história no consultório. Cada uma mais cabeluda que a outra. Porém, o ano teve momentos positivos. Até escrevi um livro. Mas, de poesia. E tem outro no prelo. Um calhamaço de mais de 300 páginas. Tornei mais agudas algumas crônicas: essa, uma tese. Dissertação, ou qualquer nome que a mereça. Interessante é que encarei até o fim alguns livros de cabeceira. Um deles, que ganhei no Natal, uma ficção cheia de humor chamou a atenção. Ainda bem que partes da história estão bem fresquinhas na memória. O fato é que a novela híbrida – e bota novela nisso - mistura primeira pessoa, gêneros literários, gente viva, geografia, política, economia e... Eis um pedacinho dela:

“Logo depois do Natal, o ano de 2005 escalou o seu correspondente no longínquo Butão - não é nada disso que vocês estão pensando. O Butão é um minúsculo país asiático, encravado no Himalaia -, um jornalista chamado Luís Inácio, para entrevistar o ano de 2006, que está prontinho da Silva para entrar no tempo. Detalhe: Luís Inácio é correspondente para assuntos aleatórios, grau aspone, logo não é a melhor pessoa para a entrevista. Na falta de outro, pois o Mainardi não topou a idéia - também saiu de férias -, a revista Temporal teve que se contentar com o que sobrou.

No Brasil, as coisas funcionam é assim mesmo. Na falta do professor, colocam o aluno. Na falta do melhor, botam logo o pior do melhor. E tudo fica mais divertido. Fica por isso mesmo. Que não foi o caso da entrevista...

O ano de 2006 é exigente. Pelo menos, parece ser. Recusou-se a ser entrevistado pelo correspondente de outra editoria. Queria alguém mais qualificado, confiável e isento. Mais verdadeiro. Alguém que falasse, escrevesse e se expressa bem na língua portuguesa. Na verdade, ele confidenciou que tomou birra do nome Luís Inácio. Confidenciou também que esse alguém fez o país crescer, no ano de 2005, muito pouco. Na América latina, somente à frente do Haiti. Imagina, um ano que promete um desenvolvimento sem igual ser entrevistado por alguém que está lá no Butão, e faz o país crescer, só ficando à frente do Haiti. Aí também é demais. Foi muito para a paciência do ano vindouro. O impasse foi criado na revista Temporal. Não teve outra saída, ou melhor, entrada: a entrevista foi remarcada para a segunda quinzena de janeiro, após a convocação extraordinária do Congresso.

Por falar nisso: até agora, 23 deputados e três senadores decidiram devolver a polpuda grana (R$ 25.694,00) aos cofres públicos ou destiná-las a entidades assistenciais. O ano de 2006 agradece, mas está com a pulga atrás da orelha. Pra finalizar, confidenciou-me que essa atitude dos políticos é para eleitor ver. Enquanto isso, a revista Temporal está arrancando os cabelos para ver quem se habilita para entrevistar o ano de 2006. O processo de seleção já está em aberto. Vai encarar? As inscrições vão até o dia cinco de janeiro. Mais detalhes e informações: www.ano2006.gov.br.”

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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