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O que faz sentido aos paranaenses?

por Eloi Zanetti *
publicado em 25/08/2005.

Há pouco tempo dirigi um documentário sobre a cultura no Estado do Paraná. Quando estávamos no processo final da montagem, juntando as cenas de uma dança polonesa, realizada por um conjunto folclórico, apareceu o insight:

- "Mas esta dança Polonesa, cuja simbologia mítica é agradecer aos deuses pela boa colheita, só tem sentido lá, no seu país de origem, na região onde foi criada. Aqui no Paraná ela só tem valor como dança, espetáculo e manifestação estética. Por mais bonita que seja, por mais representativa que possa ser aos descendentes deste belo povo, ela não faz nenhum sentido para nós paranaenses".

Como bom perguntador, continuei conduzindo meu pensamento. - "Mas o que é, então, que faz sentido para o povo do Paraná?"

- Alguns poderão dizer: - "O barreado."

- "Não! - o barreado só tem significado em Morretes e Antonina. Ele não diz nada em Maringá ou Marechal Candido Rondon".- Outros poderão dizer: - "E o porco no rolete e o fandango?" - "Também não, o primeiro é uma manifestação típica de Toledo o outro, só do litoral; Cotinga, Valadares, Guaraqueçaba, nada mais".

Continuei a me perguntar: - "Mas o que é que pode, realmente, fazer sentido para nós paranaenses? Algo que tenha a capacidade de nos unir como povo. Uma manifestação que pertença a um só de nós e ao mesmo tempo a todos? Como o candomblé na Bahia, o vanerão no Rio Grande do Sul, a folia do divino em Minas ou o frevo em Pernambuco?". Depois de algum pensar cheguei a seguinte conclusão e quero reparti-la com você:

Acredito que só o pinheiro tem o poder da representatividade como nosso símbolo mítico. Ele seria como um totem sagrado, um objeto de veneração, uma marca, uma insígnia. Só a araucária é capaz de nos retratar como Estado. Ela está presente no nosso território há mais de 250 milhões de anos e ocupava quase todo o Paraná quando os primeiros colonizadores aqui chegaram.

Platão disse que só se amamos aquilo que conhecemos. Fico abismado, quando observo o quanto viramos as costas e somos negligentes com uma das árvores mais bonitas do planeta. E que em menos de cem anos conseguimos destruir as reservas de uma das poucas espécies ainda vivas, legítimas herdeiras, da época dos dinossauros. E que recentemente foi vítima de maldosa campanha por parte de alguns políticos e fazendeiros que tentam por todas as maneiras brecar a formação de algumas reservas nos Campos Gerais, reservas que não representam nada comparadas em área com o que já foi destruído.

O movimento Paranista, estimulado por Romário Martins e que ganhou expressão nos talentos de João Turin Zaco Paraná, Lange de Morretes, Andersen, João Ghelfi e outros percebeu o potencial e a força do pinheiro como marca e o desenhou nas calçadas de petit-pavet das nossas ruas, nos monumentos e nos murais das nossas praças.

Mas como nós paranaenses somos por formação um povo de negociantes e não de guerreiros, fomos adorar outro símbolo - o vil metal. E, em vez do pinheiro como força de união, passamos a adorar o bezerro de ouro da extração predatória e do comércio. Vendemos a nossa primeira chance de identidade já no início da nossa organização social. O único símbolo paranaense embarcou nos navios de carga em Paranaguá e foi virar mesas e cadeiras em outros países.

Alguns de nós já perceberam que nada paga a ausência dos pinheiros ao pôr-do-sol no horizonte dos nossos planaltos. Você pode estar pensando que estou poeta e ingênuo demais. Não, não estou. Na mitologia o totem sagrado representa o reservatório da energia de um povo. E devemos respeitar os símbolos mitológicos, pois nossas raízes mais profundas estão todas lá. Quer outra explicação? - É por não termos um mito inicial que somos tão desarticulados como povo e tão desunidos politicamente.

Chorem comigo pela extinção das nossas araucárias. Pois, pois num futuro próximo, nossos descendentes herdarão o nosso descaso. Serão como nós: uma tribo sem totem, um povo sem mito. Desarticulados, atravessando combalidos o deserto da nossa destemperança. Lembrando Drummond poderão dizer tristes: "Este Pinheiro é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!".

Sobre o Autor

Eloi Zanetti: Eloi Zanetti - Publicitácio, foi diretor de comunicações e marketing do Bamerindus e do Boticário, hoje Consultor em Marketing e Comunicação, autor dos livros: Administração, Futebol & Cia, O Encantador de Clientes, O General que Sabia Ganhar Batalhas, O Mago Pareto, O nó do afeto e Posso Ajudar?

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