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Rushdie x Bruxo

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 27/07/2005.

Na primeira quinzena de julho, Rushdie esteve no Brasil. Visitou Parati e São Paulo. Na capital bandeirante, foi sabatinado por escritores e jornalistas, esquecendo ter sido sentenciado à morte pelo Governo do Irã, à época de Khomeini.

O autor de “Versos Satânicos" escapou da determinação do decreto condenatório e aí está expondo idéias e escrevendo. Em São Paulo, ele fala da dinastia na literatura latino-americana. Segundo ele, ela começa com Machado de Assis, passa por Jorge Luís Borges e chega a Gabriel García Marquez.

Rushdie aprecia os autores brasileiros. Sempre que encontra livro de autores nossos, tem interesse em lê-lo. O problema reside em usar as traduções, porque a elas não pode fugir o leitor e saber português é para relativamente poucos.

Nem tudo, entretanto, lhe agrada. "Receio dizer que não gosto do trabalho de Paulo Coelho. Também não gosto do “Código da Vinci" e parece que vende muito bem. Ou eu tenho um gosto muito bom ou as pessoas têm um gosto muito ruim".

O que se despreende é o valor que o escritor dá à literatura brasileira, a ponto de situar em primeiro lugar o Bruxo do Cosme Velho no plano dos autores notáveis da América Latina. Põe-no em posição privilegiada, acima de dois gloriosos vencedores do Nobel. Entre tantos estão brilhantes escritores de língua espanhola, que outros Nobeis conquistaram, como os chilenos Neruda e Mistral. Machado aparece como representante do único país que fala o Português neste pedaço do mundo. É uma magra distinção, principalmente partindo da opinião de quem parte.

Sem embargo, pessoas existem que não têm o apreço que o bruxo merece. Talvez porque o escritor não se dedicou a produzir material de somenos importância e de duvidosa qualidade. Não adianta oferecer pérolas a quem não lhes dá o devido valor.

Curioso, sem ser novidade, é que Rushdie prioriza o crioulo carioca, inserindo-o entre os seus preferidos e mais admirados. Há quem prefira produtos de predicados restritos ou sem predicados.

Daqui a três anos, ou seja, em 2008, será o centenário de falecimento do mulato de origem humilde, que perdeu cedo irmã e mãe e foi entregue aos cuidados da madrasta, uma lavadeira. Neste 2005, assinalam-se os 150 anos de publicação de seu primeiro trabalho, o poema "Ela", na folha "Marmota Fluminense".

Machado não era uma marmota qualquer, antes pelo contrário. Soube crescer, produzir, esmerar-se na qualidade literária. De aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional, transformou-se num dos maiores autores de sua época e de todas as épocas no Brasil, com seus romances, contos, crônicas, ensaios, poesia e teatro.

Ivan Nóbrega Junqueira não é complacente com Machado. Para ele, porém, o escritor tem seu ápice no conto e no romance, "notas dominantes da polifonia machadiana". Observa que antes de Machado o conto, como tradição literária, praticamente não existia no Brasil. "E o mais espantoso é que, pioneiro do gênero entre nós, tenha ele permanecido como uma de suas mais poderosas e duradouras expressões em toda a literatura universal".

Não é o que disse Rushdie?

Em demais produções, Machado também foi grande. No romance, sofreu influências européias, mas quem não as sofria, então? Mas ali está o sóbrio estilista, e os traços da sua crise espiritual aparece desde “Brás Cubas".

Reticente e antitético, roído pelo verme da dúvida, que o faz encontrar somente no humorismo uma válvula de escape à sua condição de pessimista, Machado desfila seu fel contra a vida e os homens. Em suas obras sobram estilo e viva observação psicológica, como aliás, também ressaltou Nóbrega.

Quase cem anos após partir, o profeta do Cosme Velho ainda não faz milagre em sua/nossa terra. É pena!

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências


E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

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