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A Sociedade dos Chavões

por José Aloise Bahia *
publicado em 23/02/2005.

Num mundo de respostas rápidas, os chavões caem como uma luva. A pedra que surge no meio do caminho é a tentação que este tipo de linguagem produz: conceitos enrijecidos pelo seu uso contínuo. Os desgastes acabam produzindo lugares-comuns de todas as espécies. Na efervescência do deadline, estas expressões perdem o efeito, a originalidade e revelam como os redatores se apropriam de alguns vocabulários transmitidos - na sua maioria de maneira popular - e os estiliza. Criando-o e devolvendo-o ao público, e assim recriando um sistema de moto perpétuo. Em suma, é a linguagem do clone e da dízima periódica constante. Ao contrário do signo lingüístico e a sua contínua progressão e possibilidades de significados e sentidos nas diversas leituras, o clichê trabalha na ordem inversa: é o esvaziamento, a regressão, a escassez de simbolização e o sentido único.

Um dos ramos do jornalismo que mais se delicia com o uso dos clichês é a economia. O economês usa termos clássicos. Figura como "estatais estão na UTI", "abrir as comportas do Tesouro Nacional", "acerte as suas contas com o leão", "ataque frontal à Dívida Pública", "este foi o tiro de misericórdia do Plano Real", "o mercado está aquecido", "exorcizamos o fantasma da inflação" (o predileto do governo Lula) e por aí vai. Estampam manchetes, legendas dos periódicos e chamadas dos telejornais. Dos cadernos de economia vão direto para os discursos políticos, palanques presidenciais, repartição pública, filas de bancos e caem na boca do povo. Nos dizeres de Cláudio Tognoli autor do livro A Sociedade dos Chavões: presença e função do lugar-comum na comunicação (Escrituras Editora, São Paulo, 2001): "Os chavões vão se legitimando nos processos de comunicação social e na mídia em geral, porque, cremos, já compõem significativamente a prática social, sem a qual o próprio código verbal não funciona".

Uma praga necessária - Esta prática na comunicação social não está presente somente nos cadernos, revistas e espaços dos telejornais sobre economia. Como uma praga necessária, permeia todos os assuntos dos telejornais internacionais, nacionais e locais. Até os jornalistas mais experientes, os novatos e todos os meios sejam revistas semanais, rádios e jornais impressos utilizam-se, e muito deste expediente. Não há como negar. Também o esporte, a moda, a cultura, a informática; enfim todas as áreas se alimentam dos vários jargões existentes. Um outro exemplo (2001), não menos clássico, no mundo da cultura da imagem, foi à repetição incessante das imagens dos choques dos dois aviões nas Torres Gêmeas. Este imprinting (o termo é de falecido pensador americano Timoty Leary, e pode ser lido como "aprendizado rápido") repetido a exaustão, surtiu o efeito desejado, impregnando a retina das pessoas a aderirem de forma persuasiva a causa e qualquer tipo de ação posterior por parte do governo (a situação caótica do Iraque está aí para não desmentir os fatos. Inclusive, têm até estudiosos que acreditam que este imprinting sensibilizou boa parte dos eleitores conservadores americanos, que deram a reeleição ao atual presidente Bush). Em outras palavras, os chavões podem ser de várias naturezas, desde a escrita, imagética, passando pela voz (quem não se lembra do Cid Moreira apresentando o Fantástico ou o Jornal Nacional). Deságuam em todos os sentidos dos espectadores e consumidores de notícias. Este é outro aspecto da clichetização ideológica operada pela mídia.

O uso contínuo de jargões pela linguagem jornalística revela o desejo em alcançar uma certa intimidade com determinados assuntos. Veja o caso do "Linha Direta" da TV Globo. O próprio nome já revela o uso "íntimo" que a emissora faz ao se apropriar da expressão "linha direta". A velocidade de comunicação do telefone é o fio condutor para a delação anônima. Meio contraditório, mas é uma espécie de "intimidade anônima". Por extensão outro termo acompanha a ligação, o "Disque-Denúncia". Com o ressoar dos termos "Linha Direta", "Disque-Denúncia", "Mais um foragido da justiça está atrás das grades" e os índices de audiências conseguidos, provavelmente fará com que a emissora continue com o programa por mais este ano. Afinal, o sucesso e a eficácia (apartir da sua matriz americana) estão no seguinte fato: em tempo recorde, vários bandidos brasileiros voltaram para detrás das grades. Temos notícia de que após duas semanas da apresentação do programa, foragidos foram capturados pela polícia. Além de telefonemas, a Globo afirma que recebe centenas de cartas e e-mails.

Todavia, não cabe condenar na sua totalidade os jargões, pois todos fazem uso deles. Atire a primeira pedra o jornalista ou qualquer mortal que nunca usou o artifício. Em tempos de internete e na situação intrincada da contemporaneidade dá o que pensar as palavras de Tognoli: "É preciso dizer: sem o lugar-comum não há como se operar os níveis da fala. Não se pode propor a sua eliminação no mundo atual. Onde se lia reflexão, hoje se lê rapidez e eficiência. Talvez McLuhan tenha se tornando incompleto: não só o meio é a mensagem. O e-mail agora é a mensagem."


Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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