Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Maria Cristina Castilho de Andrade


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Quase Renúncia

por Maria Cristina Castilho de Andrade *
publicado em 26/10/2004.

Renúncia
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre a tua alma nas tuas mãos
E abre as tuas mãos sobre o
Infinito.
E não deixes ficar de ti
Nesse último gesto.
(Cecília Meireles)


Não veio para isso. Antes de se despedir, contudo, perguntou-me se vira, recentemente, o companheiro de alguns devaneios. Conheci-o em visita da Pastoral Carcerária à cadeia.

Rapaz novo, com facilidade em aquarela. Imaginava e, de um momento para outro, as paredes sombrias do presídio transformavam-se em jardins do amanhecer. Ao contemplar a esperança, homens e meninos venciam as grades e viam-se de bicicleta ao redor dos canteiros com borboletas.

Ela e ele estiveram juntos, algum tempo apenas, como se fosse para toda a vida. Encontravam-se na madrugada, após as noites dela. Seu corpo frágil, oferecido nas esquinas, garantia aos dois - mais a ele - a dependência química. E era nesse entorpecimento, com inúmeras fugas, que ela se sentia amada.

O corpo dele, com o passar das semanas, pedia mais drogas e menos ela. O corpo dela, com o escorrer das horas, enfraquecia. Decidiu encerrar o acontecimento que não revelava enredo. Disse-lhe sobre a impossibilidade de repetir os retornos com o corpo sugado e as mãos repletas de pó, pedra, erva...

Sem a carne em oferta, para responder aos vícios dele, perdeu-o.

Contou-me que tem saudade. Amou-o na plenitude de sua compreensão da vida. Renunciou por ela e por ele. Percebeu-o, a cada manhã, com menos lucidez. Sentia-se responsável pelos vazios mentais dele. A distância seria - não tem tanta certeza - melhor para os dois. O entendimento dela continua intacto. O coração, porém...

Não é fácil abrir a alma nas mãos, abrir as mãos sobre o infinito e ficar o nada de si nesse último gesto!

Sobre o Autor

Maria Cristina Castilho de Andrade: Cristina Castilho é professora de Português e agente das Pastorais da Mulher e a Carcerária. No trabalho com mulheres prostituídas e presidiários, circulou e circula pelo submundo, conhecendo sua realidade. Seu livro de crônicas conta a história das pessoas com quem se deparou no submundo do mundo. Escreve semanalmente no Jornal da Cidade de Jundiaí; mensalmente no Suplemento Estilo do Jornal de Jundiaí - Regional e, quinzenalmente, no Jornal de Abrantes - Portugal.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Conheça Van Gogh em 12 passos, por Agnaldo Farias.

Concurso Ferreira de Castro, por Jacinto Guerra.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos