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Os sujos invadem o picadeiro!

por Airo Zamoner *
publicado em 17/08/2004.

Já não tenho mais paciência para rir. Não tenho mais estômago para ver essas mesmas caras estampadas em postes. Já não suporto mais o sorriso falso, retocado com a sofisticação digital e produzido em camarins prostituídos. Nem suporto mais o descaramento da empulhação estética, encobrindo a safadeza ética.

Os cientistas afirmam que não, mas acho que tem algo acontecendo e que está fora do alcance da ciência. O tempo está ficando cada vez menor! Dizem que é apenas uma sensação porque a vida de hoje é mais agitada, mais corrida, mais estressada. Não acho bastante.

Esta idéia me foi rebatida com veemência. Afirmou-se que o ano continua com seus intocáveis doze meses. Que os meses não tiveram redução de dias. Estão intactos. As vinte e quatro horas do tempo nosso de cada dia, ainda são as mesmas. Os minutos? Bem, eles ainda são sessenta para completar uma hora, assim como os segundos continuam agrupados no complô eterno dos sessenta impolutos membros.

O que eu ando desconfiado é que os malditos segundos já não são mais o que eram no passado. Por algum mistério que ainda vamos explicar um dia, eles encolheram. É por isso que a longevidade vem aumentando. Estamos vivendo mais? Que nada! Mera ilusão ocasionada pelo encurtamento do miserável segundo.

Parece ter sido ontem que elegemos nossas esperanças. Colocamos no peito delas os enfeites ritualísticos das faixas e diplomações. Agüentamos discursos vazios e jogamos neles, nossos parcos e miseráveis reais. Isto aconteceu agorinha mesmo! No entanto, outra turma de excitados já aparece novamente diante de nós. E com a desfaçatez despudorada de suas deformações de caráter, anunciam que agora sim, vão cuidar de nosso futuro. E afirmam categóricos que precisam voltar – ou ficar – para dar sequência aos planos incríveis que irão, desta vez, realizar uma a uma nossas modestas esperanças!

É hora de meditar com nossos zíperes! Colocamos, com nossas próprias e ingênuas mãos, os palhaços no picadeiro do poder, com a incumbência de suprir nossas necessidades e desejos. Mas essas máquinas estão velhas, corrompidas e muito sujas. Os pilotos são incompetentes e desonestos e mal intencionados. Basta ver como voltam de lá emporcalhados. Emporcalhados, mas intrigantemente sorridentes.

É assim que, sorrateiros, entram novamente em nossas vidas por todos os buracos imagináveis. Eles adoram buracos. Entram deseducados pelo retângulo dos tubos de nossa mídia, saturando os tubos de nossa paciência. Invadem nossos ouvidos. Arrombam nossas frustrações. E trombam-se uns nos outros, oferecendo um espetáculo circence dos mais caricatos.

Disse e repito: não tenho mais paciência para rir. Não tenho mais estômago para ver essas mesmas caras estampadas em postes. Já não suporto mais o sorriso falso, retocado com a sofisticação digital e produzido em camarins prostituídos. Nem suporto mais o descaramento da empulhação estética, encobrindo a safadeza ética.

O tempo está curto para realizar nossas esperanças. Esperanças que somos obrigados a encolher todos os anos. Encolhem, porque a vida vai passando e já não existem mais tantos dias, minutos ou segundos de sobra para realizá-los. E por quê? Porque o poder é um picadeiro, nossos governantes, os palhaços e a platéia, inocente!

No passado, descobrimos que o rei estava nu. Hoje, vemos que ele e sua corte, além de nus, estão cobertos de sujeira profunda. Sujeira que não os incomoda, como não os incomoda se o tempo espichou ou encurtou, pois seus sonhos se realizam a cada segundo.

Vamos recebê-los com sabão e desdém, com detergente e rigidez, com escova de aço e duras cobranças, para lavar as caras sujas e as consciências deformadas. Quem sabe assim, recuperaremos nossos sonhos extraviados no encurtamento criminoso que fazem, às escondidas, de nossos malditos segundos.

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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