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A safadeza de Zuriel

por Airo Zamoner *
publicado em 18/05/2004.

Zuriel nunca me revela seu nome completo. Aparece repentinamente. Sua imagem se forma a meu lado, lembrando computação gráfica da melhor qualidade. Não vem de lugar algum. Muitas vezes duvidei de sua real existência, apesar de ter conversado tantas vezes com ele. Relutei muito falar sobre Zuriel. Se falasse, revelaria algum tipo de patologia psíquica que somente poderia ser desfeita com provas concretas.

Pensei em fotografá-lo um dia, mas nunca estou preparado. Se ao menos ele ficasse quieto, meus passeios aqui pelo centro da minha Curitiba não se alterariam. Ele seria apenas mais um a povoar as delícias de minha inveterada mania de analisar o mundo. Mas não! Ele tem que abrir a boca. Falar! E o pior de tudo é que eu tenho que responder. Isso quebra qualquer possibilidade de debitá-lo às loucuras que avassalam minha mente impune quando mergulho no buraco negro das conjecturas existenciais.

E vejam só! Ele acabou de aparecer novamente. Faceiro, contrastando com as tristezas desesperançadas que pululam pelos cantos. É por isso que não posso mais deixar de falar sobre ele.

Lembro-me bem da primeira vez que o vi. Apareceu assim, tipo “efeitos especiais” e percebeu meu assombro. Com a maior desfaçatez, perguntou se eu havia gostado do show olhando-me com o mais safado dos sorrisos. Claro que fiquei mudo. Não por minha vontade. Qualquer um emudeceria diante daquilo. Esperou pacientemente minha palidez sumir. Aos poucos, os pedaços de minha lucidez se recompuseram. Voltei olhar para o lado, na infantil expectativa de não vê-lo e poder me convencer de que miragens a gente vê em plena Rua das Flores. Que nada! Ele ainda estava lá, meio transparente, me olhando e me provocando com o olhar sarcástico. E falou novamente!

Como desejei que não abrisse a boca! Mas não! Ele sempre tinha que falar! Queria saber se eu estava me sentindo bem!

– Como? – perguntei e repeti. – Como? Você me aparece novamente aí com essa cara-de-pau dos diabos, meio transparente, diz que se chama Zuriel. Fala como se fosse Deus e diz que está chateado com todo o mundo, mas não interrompe esse sorriso palhaço em sua cara. Você diz que está impaciente com a indolência e a bandalheira humana porque ninguém aprende no ritmo que você esperava, ameaça acabar com tudo para tentar uma nova experiência! Ora, Zuriel! Com tudo isso, você quer que eu esteja me sentindo de que jeito? Você fica aí neste lusco-fusco me embaralhando a cabeça e me pergunta se estou me sentindo bem? Dê uma olhada em volta. Veja esse povo desgraçado, torto, ignorante, ingênuo, bandido, doente.Veja! Se você é quem sugere ser, a culpa é sua. Não me pergunte nada. Fique quieto e vá coçar sua consciência! Eu já estou cheio dessa presença incômoda e sarcástica. Se você é mesmo o autor de tudo, pergunto eu se você está se sentindo bem. Você consegue ver tudo bem de cima, não consegue? Dê uma boa panorâmica nesse trabalhinho aí. Está gostando do que vê? Essa história de dar um ponta-pé inicial, espalhando estrelas pra tudo que é canto no maior chute do universo e depois deixar o resto por nossa conta é coisa dos infernos. Não é justo. Agora, é bom você saber de uma coisa, Zuriel! Nós estamos fazendo nosso trabalho que não está fácil. E você? O que está fazendo? Fica aí me aparecendo desse jeito. Me deixando pálido toda vez...

Olhei para o lado. Queria engrossar minha reação com um olhar dos demônios e atiçar seus brios, mas não vi nada. Não sei quando ele sumiu. Acho que já fazia tempo que eu falava sozinho. Ainda tinha muito mais para falar, mas era tarde.

É sempre assim. Ele aparece. Provoca. Ri, com aquele sarcasmo diabolicamente celestial. Diverte-se com o que vê e depois vai embora. Ou melhor desaparece, derretendo-se no espaço. Mal educado, nem se despede. Nem pede licença. Eu já senti que Zuriel anda meio azucrinado. Ao diabo com aquelas qualidades divinas. Aquela história de que mandar o filho para cá não deu em nada. Invenções humanas que o desgraçado do Zuriel semeou só para se divertir às nossas custas.

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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