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HIPOCRISIA AMERICANA

por André Carlos Salzano Masini *
publicado em 13/05/2004.

Desde a aurora dos tempos, escritores têm procurado definir a hipocrisia:

"O homem é único animal que consegue se manter em atitude amistosa com a vítima que tenciona devorar, até devorá-la." (Samuel Butler).

"Eu me sento sobre as costas de um homem, sufocando-o e obrigando-o a me carregar, mas garanto que desejo aliviar seu sofrimento por qualquer meio possível -- exceto sair de suas costas." (Tolstoi).

Hoje, porém, todo esse acervo literário parece ultrapassado, pois George Bush está conseguindo realizar, na prática, aquilo que a mais sinistra ficção ousara somente imaginar: "Eu falo de paz, enquanto minha oculta hostilidade, dissimulada sob um sorriso de segurança, flagela o mundo." (Shakespeare).

A catástrofe do Iraque surgiu unicamente da vontade de Bush. Ele buscou a guerra obstinadamente, por todos os meios possíveis. Fez-se de surdo aos inspetores da ONU, que afirmavam não haver armas de destruição em massa; surdo aos apelos do mundo, que pedia diplomacia. Fez chantagem, ameaçou países, apresentou provas forjadas...

Reveladora é a frase que o sutil Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, deixou escapar no início da guerra: "Se essa gente (os iraquianos) fosse minimamente racional, eles simplesmente deporiam suas armas." Ou seja, diante da esmagadora superioridade bélica estadunidense, seria "ilógico" para os iraquianos morrer lutando.

De um ponto de vista estritamente matemático, Rumsfeld tinha razão. Em um raciocínio frio e "contábil", para os iraquianos seria mais "racional " deixar os estadunidenses invadir e tomar conta do petróleo, deixar a Halliburton apoderar-se das obras... Seria mais "lógico" ceder, que morrer enfrentando uma força infinitamente maior que eles próprios.

Se os homens fossem máquinas, e no lugar do coração tivessem pedras, e no lugar de almas tivessem só ganância e covardia, Rumsfeld e Bush teriam acertado. Mas erraram ao julgar os outros por si próprios. A verdade é que o ser humano raramente é "lógico", e a vida não pode ser "calculada" como uma planilha de contabilidade. Por mais "irracional" que pareça ao senhor Rumsfeld, um ser humano muitas vezes prefere a morte do que ceder a um conquistador poderoso e arrogante.

Mas, em um ponto, Bush estava certo. Se a guerra realmente tivesse sido como ele esperava, todos seus pecados teriam sido perdoados: As mentiras, esquecidas. A reeleição, garantida. O butim de sua quadrilha, bilionário; e ninguém se lembraria dos milhares de inocentes mortos. Seriam apenas cinzas no limbo da História, como tantas outras barbaridades esquecidas.

Mas a guerra reservava surpresas. Hoje, diante do crescente amontoado de cadáveres estadunidenses, que faz Bush? Simplesmente, coloca a culpa no serviço secreto.

Pobre Bush, foi "levado" a declarar guerra...

Para coroar a hipocrisia, surge o escândalo da tortura de prisioneiros iraquianos.

Bush se mostra indignado, aponta o dedo para seus míseros soldados, e promete puni-los. Mas a verdade, por trás dessa encenação, é outra.

A história começou em 2002, quando Bush (sim, ele próprio) "decretou" que as Convenções de Genebra não se aplicariam a "certos" prisioneiros dos EUA. Que algumas autoridades estadunidenses poderiam, num clicar de dedos, decidir que certa pessoa simplesmente não teria mais direito a qualquer proteção legal. Bastaria pronunciarem a palavra mágica, "terrorista", e poderiam fazer com a pessoa o que bem entendessem.

As conseqüências disso foram mostradas exaustivamente na TV: os tais prisioneiros sem direito à proteção das Convenções de Genebra, os párias da humanidade, sendo humilhados, com sacos na cabeça, arrastados, jogados em buracos incomunicáveis... no Afeganistão, Guantánamo, Iraque...

Os próprios EUA admitiram "métodos agressivos de interrogatório", "privação de sono", "suicídios". Mas Bush considerava tudo isso "perfeitamente legal" (isso foi denunciado até aqui mesmo, nesta coluna, em 09/04/2003).

Então, surgem as imagens das torturas no Iraque, e Bush (pasmem) finge enorme surpresa!

Mas, afinal, qual é a novidade?

Bush deveria tentar explicar aonde exatamente acaba sua "legalidade", e onde começam os "crimes" de seus soldados torturadores.

Henrique IV? Ricardo III? Iago? Qual nada!

Cala tudo o que o antigo Shakespeare canta, que outro patife mais falso se alevanta!

Sobre o Autor

André Carlos Salzano Masini: André C S Masini nasceu em São Paulo, em 1960. Aos 17 anos escreveu sua primeira história de ficção científica, "Os montes além do deserto", que existe até hoje em manuscrito. Cursou Geologia na USP, e formou-se em 1983.

Hoje tem dois livros publicados: a ficção científica "Humanos" e o livro de traduções e estudos “Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa”, além disso tem uma coluna semanal no Jornal "O Paraná", e é diretor de um centro cultural virtual, a www.casadacultura.org, que divulga seus trabalhos e tem milhares de assinantes em todo o Brasil.

contato: andre@casadacultura.org

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