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Triunfos da Estupidez

por Chico Lopes *
publicado em 06/05/2004.

Quem quer que tenha o hábito de ler jornais e revistas e de pelo menos dar uma olhada nos noticiários de televisão - e além disso, tenha alguma sensibilidade - deve ter concluído há muito tempo que não há mais jeito: a estupidez triunfou.

Como explicar o conflito do Iraque, sobre o qual paira a negra asa imperial de Bush, fora das óbvias conjunturas econômicas, históricas, sociais, étnicas e religiosas, senão como a manifestação do pior que o ser humano carrega dentro de si: a estupidez, ela, a própria, que o faz, encarnando certo povo, julgar-se superior a outro a ponto de ter todo o direito de matá-lo? Nessa história, quem elege bandido aqui e mocinho ali se dá mal, porque, de repente, eis que se sabe da prática de torturas pelos americanos, mas convém lembrar-se dos iraquianos exibindo os corpos queimados de soldados americanos com uma alegria demente. Atrocidades de lado a lado, e, quando se observa com cuidado o sujeito que olha para essas imagens na televisão ou nas bancas de jornais atentamente, a conclusão é muito triste: ele está se deliciando com isso como quem visse um churrasco. De carne humana? Pouco importa. Vinga-se sadicamente de autoridades que detesta de modo cego e dá vazão às suas próprias broncas recalcadas.

Pode ser que a principal razão para que a estupidez triunfe não esteja nem nos estados organizados de modo imperialista, sanguinário e opressivo, nem nos povos que, oprimidos, reagem com violência idêntica. Pode ser que esteja na incurável constituição do ser humano, e aí pode-se recuar até à idéia religiosa do Pecado Original, de nossa queda. Conclui-se pelo óbvio: ninguém presta, somos irremediáveis. Freud, o próprio, achava que o cerne de irracionalidade do ser humano é inextirpável. Viu a Primeira Guerra e teve certeza disso. Postulou Thanatos, o instinto de morte, que conviveria no ser humano inseparável do instinto de vida e auto-conservação, o que assustou muita gente, mas hoje, na marcha pra lá de suicida que vivemos coletivamente, parece a coisa mais lógica do mundo.

Basta que se pense um pouco: sabe-se de todo o horror que a guerra traz, sabe-se que o mundo sempre venerou heróis pacifistas como Gandhi e outros, mas, cadê a solução? Não se vive nunca em paz porque há sempre guerras em algum canto do mundo e esses intervalos parecem mais tréguas em que a barbárie dá um alívio, preparando-se para retornar triunfalmente - o que fará infalivelmente daí a algum tempo - do que paz verdadeira. O pacifismo parece inerme: apela para a razão, para a bondade, para a tolerância, para o que temos de melhor, mas põe de lado o fato de que o ser humano tem prazer em matar, pilhar, humilhar, oprimir, que, enfim, se compraz em odiar. É tão forte esse apetite pelo ódio - ligado ao nosso primário e incurável narcisismo - que ainda temos que achar uma verdadeira revolução o "Amai ao próximo a ti mesmo", de Cristo, pelo simples fato de que isso é com certeza a coisa mais impossível e utópica deste mundo.

Sobrevive, dessa montanha de má-fé e tapeação, apenas uma certeza: a agressividade humana e a mentira parecem sempre mais reais que nossos pífios sentimentos, nossas bobas esperanças.

Mas, esse é o pior dos efeitos que a estupidez coletiva pode efetuar: o de contaminar os que acreditam ainda ter alguma humanidade sensível em si. É preciso - para que essa em nós não pereça - acreditar sempre que alguma coisa melhor, mais fina, é capaz de resistir, lá dentro, lá no fundo. Lembrar do grande Camões dos sonetos: "Trago por baixo/rústico e enganado/quem não é com meu mal engrandecido". Apostemos nesse rústico a quem o insano orgulho humano não contaminou.

Sobre o Autor

Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.

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Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG

Email: franlopes54@terra.com.br

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