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Noite Nula

por Anderson Borges Costa *
publicado em 28/12/2008.

Li o Noite Nula, do poeta Carlos Felipe Moisés, como quem dá um trago em um copo de uísque sentado em uma mesa de bar na Vila Madalena ou na Bourbon Street, em Nova Orleans. Lio livro tentando ouvir o som que sopra de suas páginas. E o som vem de todos os lugares: do saxofone que marca o final de todas as páginas ímpares (o número ímpar sugere o desequilíbrio, o desbalanço, o incômodo), das fotos da capa e dos títulos dos poemas. Mas, lá no fundo, anterior a todos estes sons, vem uma batida constante, algo que chegou aos meus ouvidos como um eco do grito primal, um eco do Big Bang: o vão segredo da origem do universo. E, por evocar a origem comum a tudo e a todos, Noite Nula passa a refletir elementos que compartilhamos (muitas vezes em segredo).

É nesse momento que a leitura dos poemas nesta obra nos toca e passa a fazer parte do leitor, entrando em nossas veias como grito (a voz vem do útero rasgada- uivo alucinado de quem só quer uma chance-e já na garganta se transforma em pranto rouco, canto de quem nasce e renasce e morre), como choro (olha o som do saxofone de novo), como música. Neste sentido, Carlos Felipe Moisés atingiu o que sempre almeja em seus livros, ele conseguiu tocar nessa variedade de coisas de uma forma tal que transmite ao leitor alguma comoção. E lembro aqui que a palavra comoção sugere o movimento acompanhado: os poemas em Noite Nula movem o leitor, que se vê, neste movimento, acompanhado de suas perturbações e de seus incômodos.

O universo é recheado de estrelas, de brilho, mas a luz é uma exceção ali: o universo é quase todo escuridão. E é no escuro que caminhamos lendo o Noite Nula. As perguntas nos levam a incertezas e dúvidas. O livro levanta uma questão básica, que pode ser ilustrada no verso: Como vão as coisas, Charlie?. Tal pergunta, aparentemente apenas fática, aparentemente uma simples referência a Charlie Parker e a Jorge Benjor, na verdade, convida agressivamente o leitor a tentar enxergar-se no breu sem lanterna: Chega de tu! É você. E a resposta parece que nunca chega com a suavidade musical do jazz, pois o eco constante da própria vida dos vários personagens-poemas (o sopro do jazz nesta obra também se dá no título de vários dos poemas) remete ao delírio, ao desequilíbrio e à dúvida. Há em Noite Nula um desfile de substantivos, advérbios e adjetivos que martelam com baquetas de bateria uma dúvida existencial que nos move para a morte (ou renascimento?) incessante: penumbra, ninguém, nenhum, negação, choro, grito. E eu me busco na dúvida, na incerteza, no escuro. Me encho de nadas que me sopram vazios. E sonhos. E leio que Nada compensa o vazio da meta não sonhada.

Noite Nula é, para mim, um piscar de olhos: ao fechar as pálpebras, mergulho na certeza das trevas; ao abri-las, entro na luz da dúvida. Todo este movimento para, no final, concluir que a noite é nula. Mas é no nada que eu cresço.

Existe um elemento constante em Noite Nula, que, por ser inalcançável, não pode ser tocado, e faz com que sempre pisemos em solo movediço: o tempo. O tempo estápresente na noite, no escuro, no ontem hoje sempre do Kay Sage; no amanhã é nunca. No nada original do Big Bang e até na clareza do dia no nome Billie Holiday (cujo dia não é qualquer dia, é um dia sagrado, portanto idealizado e inatingível).

Quero dizer, para finalizar, que a experiência de ler Noite Nula foi, sim, perturbadora e me deixou, até agora, entusiasmado e espantado. Vale a pena atravessar o Katrina de suas páginas. Vai um uísque aí?

Sobre o Autor

Anderson Borges Costa: O autor tem 43 anos e é professor de Literatura Brasileira (pela USP) na Escola St. Nicholas em São Paulo

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