Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Pablo Morenno


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

A CULPA DA CULTURA

por Pablo Morenno *
publicado em 06/07/2008.

A ignorância pode ser uma coisa boa. Não falo da ignorância como estupidez. Trato da ignorância como desconhecimento. Ando pensando que o surto de infelicidade do mundo contemporâneo se deve à informação. Mesmo que não se queira, ficamos sabendo de tudo, ou quase tudo. Acontece que “quase tudo” é tudo, praticamente.

A imaginação pode ser uma coisa ruim. Por culpa da imaginação o quase tudo é tudo. Porque quando sabemos pouca coisa sobre algumas coisas, logo tratamos de imaginar outras coisas ainda não explícitas. Como é de conhecimento público, imaginar não tem limites. E, neste rumo, as coisas degringolam.

Veja-se o caso da fita do Feijó, o vice-governador aqui do Rio Grande do Sul que levantou o esquema de corrupção das estatais gaúchas. O que saiu na imprensa foram apenas alguns minutos. E deixou qualquer um com quase tudo em pé, exceto aquilo que só sidenafil levanta. A feijoada do Feijó só tem algumas coisinhas de porco e a gente já fica imaginando que lá no fundo, lá onde a concha não alcança, há qualquer tipo de coisas. E o Feijó que fez a feijoada acaba sendo culpado pela existência do porco. Por isso que eu estou achando que a ignorância pode ser uma coisa boa e a imaginação pode ser uma coisa ruim.

Vejam o que uma simples feijoada pode causar. Tudo por causa da imaginação. Dos pelinhos sujos no courinho já vamos para o fundo da panela, da panela para o porco, do porco para o chiqueiro. Logo estaremos nos dando conta de há outros chiqueiros, outros criadores. Em poucos minutos estaremos sabendo de toda a agropecuária e a culpa pela falta de alimentos no mundo. Se fôssemos mais ignorantes e menos imaginativos, seguiríamos aqui o nosso mundinho, tocando a vida, e esperando se Flora ou Donatela é a boazinha da nova novela das oito.

Minha segunda prova para fundamentar a tese é a conduta dos policiais militares no Rio. Seria melhor não saber e ficar imaginando que eles são a segurança do país. Eu gostava tanto daquelas propagandas de jovens militares ajudando a ribeirinhos na Amazônia, ou levando remédios aos índios. Como a imaginação começa funcionar, vejo os jovens das favelas do Rio fazendo paráfrase do sapo da fábula da festa dos animais no céu: “Por favor, me entreguem à polícia! Os bandidos do Rio são muito perigosos!”. E a imaginação prossegue tentando incluir na história dezenas de jovens mortos por traficantes, presentinhos dos policiais a bandidos. Como se pode ver, mais uma vez a ignorância nos protegeria, e a imaginação passa a ser uma coisa ruim.

Talvez o que acontece comigo poderá acontecer com você. Esses sintomas são graves, e ando observando o mesmo sinal clínico em muita gente. Fico sabendo que a leitura aumenta pouco a pouco, que o acesso à universidade também. Por conseqüência, estamos passando a ser menos ignorantes, e nossa capacidade de imaginação está perdendo as rédeas.

Falar da ignorância como coisa boa e de imaginação como coisa ruim beira à ética. Pode não ser muito científico. Mau e bom são conceitos subjetivos e posso estar errado. Em algum tempo eu havia aprendido que o conhecimento era fundamental, não a ignorância. Na mesma época, minha professora fazia discursos a favor da imaginação. Só que agora, nestes tempos, essas duas coisas estão me trazendo sérios problemas e isso anda acontecendo com conhecidos meus. Alguma coisa anda errada. Tenho a impressão que não somos nós, mas não acho que tenho a verdade, ainda.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


ESCRITOR INTERROMPIDO, por Miguel Sanches Neto.

EDITH MODESTO: uma voz contra o preconceito, por Ângelo Caio Mendes Correa Jr..

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos