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Apagão ambiental

por Efraim Rodrigues *
publicado em 12/01/2008.

Há poucas semanas, o Brasil estava diante do paraíso energético, com a descoberta de Petróleo em Santos. Nesta semana, estamos à beira do apagão, por causa da falta de chuvas no verão. Faz sentido ?

Há 500 anos que nos acostumamos a viver só do que a natureza nos dá. Quinze anos depois de chegar na terra miserável e fria que é o nordeste dos EUA, os peregrinos ingleses estavam criando universidades e estaleiros, usando a madeira de segunda qualidade que havia lá. Aqui, a madeira era muito melhor, o clima se prestava ao plantio de açúcar, e o subsolo tinha minérios valiosos. Assim desperdiçamos centenas de anos, vivendo do que Deus nos deu.

Mas a história não acabou. Há ainda mais do mesmo. O máximo que Brasília e suas agências, satélites e computadores podem fazer neste momento é rezar para chover. A candidatura de Dilma ao planalto depende de São Pedro.

Não há nada de místico em fazer chover. Do mesmo jeito que a redução da cobertura florestal causou a imprevisibilidade de chuvas no Norte do Paraná, a aproximação do semi-árido da zona da mata, e a expansão do deserto do Saara para a região do Sahel, do mesmo jeito, é tecnicamente possível aumentar a área florestal e fazer o inverso. No entanto, ser tecnicamente possível, significa ser possível ?

Também nesta semana, um clone indiano do Cid Moreira está lançando um carro de US$ 2500,00. Os chineses hão de fazer ainda mais barato.

Por um lado, custando pouco assim, o tal carro deve causar pouco impacto para sua fabricação. Por outro, este veículo é voltado para tirar gente de cima das motos e colocar dentro de um carro.

Não culpemos a Tata Motors por viabilizar que um indiano pobre tenha um carro. Ao contrário, o produto deles expõe que todos temos direitos iguais de poluir o planeta.

Já pensou o que vai ser de São Paulo com carros novos custando R$ 5000,00 ? O que será do planeta ?

Eu e você ajudamos a criar a noção que viver na cidade, no ar condicionado e andando de carro, é mais bonito que viver no mato. Assim, ajudamos a criar a instabilidade ambiental em que vivemos, do qual o risco de apagão é somente um exemplo.

Quanto tempo dura a felicidade de um carro novo ? Ela vale a pena o tempo de trabalho para ganhar dezenas de milhares de reais ? Se você e eu fizermos diferente, todos farão, mas não espere nenhuma campanha mídia neste sentido.
A bem da verdade, os místicos do planalto têm razão. É melhor mesmo orar.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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