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Nasce um idioma

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 05/09/2007.

- ani ohev otach, Noga, te amo.
- uau! me subiu um calor! essa declaração em hebraico... nunca falei de amor em hebraico antes... me deixou maluca, chag sameach, motek sheli. meu docinho.
- é tua franqueza que eu adoro... tua alma se despe diante de mim, é tão vital... e o hebraico é fundamental, um lugar diante de Deus: sem mentiras ou artifícios, meu eu puro diante de Deus. me vai direto ao âmago.

Hierosgamos - Diário de uma Sedução


Do lusófobo e achincalhado jargão convenientemente apelidado de miguxês - uma ação entre amigos para rebaixar online nosso português, cujo nome me lembra muito uma mistura de pinguço com mixuruca, resultando de qualquer maneira num palavreado minguado - à mania americana de reduzir qualquer coisa a acrônimos - intrigantes conjuntos de iniciais como lol, btw, asap - a gente se acostumou, pra não dizer que se conformou, em testemunhar a metódica destruição do idioma que convencionamos chamar de "linguagem pop".

Vai na contramão desta tendência o aspecto mais fascinante do livro de memórias de Amós Oz, "De Amor e de Trevas", que estou lendo agora. Lamento a limitada proficiência em hebraico que me impede de lê-las no original, porque a tradução, sinceramente, transforma o que deve ser, com certeza, uma orgia etimológica digna dos prêmios que recebeu, num amontoado profuso de palavras e metáforas que atordoa os sentidos, a ponto de prejudicar o entendimento.

Nada que consiga estragar o raro prazer de ver nascer uma língua moderna. Sim, ver transformada em idioma corrente - vencendo o desafio de descrever fielmente a complexa realidade contemporânea - uma língua que já foi sagrada, restrita a livros de orações e limitada a um mundo ancestral de poucos milhares de habitantes, na maioria nômades e imigrantes em constante processo de assimilação. Pelas mãos do acadêmico Joseph Klausner, tio de Oz, nasceram conceitos comuns como "lápis", "camisa", "guindaste" e "sensual". Dá pra imaginar? Neste nosso Brasil de hoje em dia, que tão pouco liga pra gramática ou grafia, pra não falar das sutilezas linguísticas e da riqueza, banalizada e esquecida, de vocabulário?

O conceito da língua - falada, e depois escrita - como o mais festejado diferencial humano, um instrumento básico de comunicação cultural e mais além, da comunicação com o divino, é bem conhecido dos judeus. Vale conferir, do mito da Torre de Babel às origens da numerologia, passando por fantasiosas teorias de um código secreto inserido na Bíblia e oculto... em palavras e letras. Vendo a coisa por este lado, fica fácil entender a aparentemente absurda antropomorfização dos livros, tão cara a Oz. São volumes que se sentem constrangidos, apertados nas estantes, livros encalorados, suados, perfumados, apaixonados, e não é pra menos. Vinha deles, da herança cultural contida neles, a última esperança de auto-estima e sofisticação de um povo refugiado, desmantelado, deslocado contra sua vontade para a realidade empoeirada e infestada de germes do pequeno país oriental, "asiático demais" para o gosto dos avós de Amós, e em cujas universidades, nos primeiros anos após a Segunda Guerra, se amontoavam e disputavam um custoso lugar ao ofuscante sol do deserto um número impressionante de professores, doutores, literatos, escritores e intelectuais que superava em muito o de alunos e leitores.

Deve ser por isso que o menino Amós sonhava ser livro quando crescesse, não escritor, mas livro mesmo: um jeito infalível de garantir o amor e o respeito da comunidade emergente, passagem garantida pra escapar do seu dia-a-dia pobre e ameaçador, num país que lutava cotidianamente pela sobrevivência. Aliás, luta até hoje. Mas já deu mais de um Nobel, e parece estar a caminho de outro.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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