Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Noga Lubicz Sklar


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Delírio turco

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 22/05/2007.

Era uma vez, num oásis perdido do deserto de Sinai, que naquele tempo não era egípcio - é, gente. esta história faz tanto tempo que naquele ano o Sinai, que sempre foi egípcio, pertencia a Israel, mas há muitos anos voltou a ser egípcio -, um sheik árabe que tentou trocar minha amiga Ana Cecília por 50 camelos. O insucesso da transação deveu-se ao falho poder de sedução dos meus amigos da época, Michel e Shloime, empenhados em disfarçar ao olhar semítico do "primo" o fato de minha amiga ser alta, magra, e extremamente branca - o apelido dela era "comprida" -, além de independente demais, já aos 18 anos de idade uma escritora com toques psicanalíticos em ação: pra muçulmana de harém ela não dava mesmo.

À Turquia eu nunca fui, mas sei que dos muçulmanos é o país que procura ser moderno, e pra orgulho* do pessoal de lá - cortejando faz anos a União Européia e quase chegando lá - 100% laico: está nos jornais todos os dias nos últimos dias, devido ao bafafá das eleições recentes. Com tudo isso sedimentado na minha cabeça, foi com um espanto enorme que me deparei, no livro @mor.com de Regina Drummond, com a descrição contemporânea de uma Turquia onde as mulheres usam véus, são negociadas por camelos pelo sheik, e onde um fausto sultão mora em palácio, onde abriu mão de seu harém pra se casar por amor com uma odalisca de figurino esvoaçante. Gente. Eu sei que ficção existe, e é largamente praticada. Mas situar um relato (fictício, eu entendo) de viagem na Turquia do século 21 e descrevê-la deste jeito, num antagonismo tal à abundância de informação vigente, pra mim só tem um efeito: me afasta. Ou no mínimo, me leva pro google, pra wikipedia, pra sede virtual de informação, uai, estou burra ou o quê? Pra descobrir que o último sultão foi expulso em 1922 e os véus estão proibidos em universidades, escritórios do governo, e até nas fotos para carteira de motorista: é, gente, as turcas modernas dirigem.

Li este livro por dever de ofício. Minha editora informa que o assunto é o mesmo do meu, e sendo a autora uma escritora de sucesso, periga o leitor potencial, no caixa da livraria, optar pelo dela e não pelo meu. Já fui ficando deprimida, puta, amaldiçoei a cegueira empresarial dos editores que me recusaram, lamentei o meu atraso, e já fui sem piedade enterrando meu sonho de prateleira, quando decidi comprar o livro e lê-lo: graças a Deus, não tem o mínimo parentesco com o meu, a não ser o fato de se passar na rede, o que hoje em dia quase equivale a dizer que se passa no planeta Terra.

Embora não a pratique, eu gosto de ficção, mas tenho essa mania de conferir no google as chances de viabilidade. Quando li aquele livro do ano passado sobre vampiros modernos, que fez um certo sucesso - como era mesmo o nome? - me diverti bastante encontrando na internet o mosteiro, as paisagens, os hábitos ortodoxos que a autora citava: pesquisa é bom e eu gosto.

Hoje em dia estamos tão alertas, tão entupidos de dados, tão obrigatoriamente atualizados, que sinceramente, não dá pra tecer uma lenda de mil e uma noites acontecida em Istambul no ano de dois mil e poucos.

Pode todo mundo aí falar que estou mordida, que não me conformo com o fato de que o amor na internet chegou ao mercado sem ser pelos meus toques digitais, mas sinceramente? Eu não me importo. Até agradeço à Regina, por domar as feras marqueteiras antes de mim, mas sinceramente? A Turquia dela equivale a uma China feudal, onde as mulheres atrofiam os pés pra arranjar marido. Em tempos da genial Xangai de Antonio Prata, será que cola?

Pra saber mais sobre países árabes na atualidade, sobre bons textos, e sobre literatura, recomendo o blog de viagem do Joca Reiners Terron no Amores Expressos. O cara é bom, já entrou pra minha lista.

* ah, sim. deu também o mais recente prêmio Nobel de literatura para Orhan Pamuk, um ex-arquiteto de 50 e poucos como eu.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


O século do Eu, por Noga Lubicz Sklar.

Passeio Socrático, por Frei Betto.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos