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Quem somos nós?

por Airo Zamoner *
publicado em 15/02/2007.

Enquanto a população ameaça atravessar da indignação para a revolta contra mais um crime hediondo, gritando nos estádios em uníssono “justiça, justiça, justiça, justiça...”, leio estarrecido uma conversa de três governantes, que beira a provocação. Eles combinam uma folia carnavalesca em conjunto. Ao tomar conhecimento do acordo, o responsável maior se propõe a capitanear a caravana que, para aumentar a provocação, tem até nome: “triângulo da folia”. É inacreditável a falta de pudor e de medo!

Ao mesmo tempo, as chamadas “autoridades” dizem: agora não é hora adequada de tomar decisões. Quando será a hora? Ou melhor, quando “foi” a hora certa? O “ontem”, quando nada se fez, é que gerou as desgraças do “hoje”. Um assassinato a cada duas horas e quarenta minutos virou dado estatístico e ainda não é o momento? A conclamação dos poderes, todos eles, é para que todos se acalmem, até que as desgraças saiam do noticiário e deixem de incomodar suas tramas?

Quando leio os jornais, as notícias falam somente do que planejam para eles mesmos. Quem vai pegar tal cargo, quem vai ocupar qual pasta, qual estatal. O que o partido tal vai fazer, quem está brigando com quem. Quem vai presidir esta ou aquela comissão. Ou, pasmem! Onde esta ou aquela autoridade vai cair na folia: se no Rio ou na Bahia, ou alhures! Reparem bem: as notícias só anunciam o que se passa entre eles, na partilha do poder. Porque é só isso que lhes interessa. Não se vêem discussões sérias sobre os rumos da pátria. Não se vêem planos verdadeiros para tirar este povo do inferno. Estamos impactados! Não há nada a ser discutido para consertar este país caótico, em que grupos armados, ou não, vêm tomando descaradamente o território nacional, diante da inércia e inépcia da autoridade? Até parece que o Estado é comandado por facínoras que estão entregando o povo à sanha dos bandidos, estupradores, e agora, torturadores de crianças, seus prováveis comparsas das noites escuras, dos becos éticos, das trilhas do assalto, dos acertos espúrios regados a vinhos de dez mil reais e charutos de alta linhagem. O que nos acalmará diante do crime mais atroz, o de torturar uma criança até à morte mais horrível, dilacerando e mutilando seu corpo frágil, indefeso sob as vistas de todos?

Não é hora de tomar decisões, dizem eles! Parem com isto! Vamos deixar de hipocrisias! Eu bem que gostaria de ser politicamente correto e dizer que é melhor construir escolas do que presídios. Mas as escolas não foram construídas ontem e geraram a necessidade dos presídios de hoje, que também não foram construídos. Não construiram escolas formadoras nem presídios reformadores. Não educaram as crianças e nem prenderam os assassinos. E agora? Agora ainda não é hora de tomar decisões? Ora essa! E quando é que será a hora, caras-pálidas? Na calmaria, se é que houve um dia, não se tomou decisão alguma para prevenir o futuro que hoje é este presente aterrador. E hoje, também não se decide nada! E, em nada se decidindo, já sabemos o amanhã que teremos. O poder precisa tomar decisões no calor dos acontecimentos, sim! É para isto que se elege um Presidente, um Governador, um Ministro. É para isto que pagamos juízes e legisladores. Para que tenham a coragem, a hombridade de tomar decisões, exatamente no calor e na tensão dos acontecimentos e não na calmaria do “dulce far niente” eterno em que vivem. Se fôssemos atacados por alguma força militar que tentasse desembarcar tropas inimigas ao longo da costa, nossas autoridades também pediriam calma? Diriam que não se pode tomar decisões no calor das tensões? Enquanto isto, a invasão continuaria avançando sem resistência? É isto que estão dizendo hoje, para todas as famílias que perdem diariamente seus entes queridos, mortos pela incompetência, covardia, egoísmo de quem é regiamente pago por nós para nos defender e promover nosso bem-estar mas nada fazem!

E nós? Quem somos nós? Nós, que temos sempre cedido aos apelos salvadores que se repetem a cada eleição! Nós, que renovamos esperanças a cada ano, a cada década! Nós, que entregamos quase a metade de tudo que produzimos ou consumimos a esta máquina de triturar corpos, somos exatamente quem? Quem somos nós? Nós somos aqueles que assistirão inertes a uma criança de seis anos ser arrastada, torturada, decepada sob nossas vistas, que sabemos de quem é a responsabilidade? Ah, eles sempre gostam de dizer que cada povo tem o governo que merece. Não queremos mais ouvir que todos somos responsáveis. Não é verdade! Não somos não! São eles os responsáveis! Eles queriam muito esta incumbência, juntamente com verdadeiras fortunas em seus bolsos, para dirigir e organizar nossa sociedade e a receberam! Mas eles são indolentes, preguiçosos, egoístas, mal-intencionados, gastam todo seu tempo e todo nosso dinheiro para se perderem em disputas internas, seja por grandes patrimônios vindos de negociatas, seja por salários cada vez mais altos, mordomias mais sofisticadas, maior poder. E então, quando as coisas se complicam, é fácil. É só jogar a culpa nas pessoas, nas desigualdades, na injustiça social e mais um sem-número de coisas etéreas, impalpáveis até que tudo se acalme.

E agora, no carnaval, vamos assistir à folia descarada dos governantes em seus camarotes de luxo! Vamos assistir ao “triângulo da folia”. Veja como eles têm tempo para planejar! Planejaram o “triângulo da folia”. Vão viajar de um estado para outro, com suas famílias, com nosso dinheiro.

Quem somos nós? Quem somos nós que permitimos, eleição após eleição, este descalabro? Já não é hora de mostrarmos quem somos verdadeiramente? Eles precisam saber que não seremos sempre massa de manobra, submissos, inertes, coniventes. Eles precisam passar a ter mais pudor, mais medo!

Ainda existem “bastilhas” a serem derrubadas!

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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