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CARTAS REGISTRADAS

por Miguel Sanches Neto *
publicado em 15/07/2006.

Ao pegar o envelope grande e meio mole já suspeitei de algo. Era leve e tinha um conteúdo macio, apesar do tamanho. Muito diferente de minha correspondência diária, recheada de livros. Rasguei o envelope e encontrei 29 cartas de remetentes distintos, todas dirigidas a este autor. Um record em minha vida de destinatário.

Enquanto abria os envelopes com cuidado para não estragar as folhas de caderno preenchidas com letras caprichadas, ia sentindo um bem-estar danado. Eram cartas de leitores e não havia nenhuma crítica nelas. “Você é um autor ótimo”, escreveu Lucas Ribeiro.

Mas não pensem que pararam por aí os elogios. Heitor Ribeiro Gomes reconheceu a profissão de escritor, destacando meu desempenho na carreira: “Você trabalha muito bem como autor”. Orgulhosa, Marla Kaline da Rocha Delfino faz uma concessão a este escriba: “Prezado Miguel, devo admitir que você leva muito jeito para fazer artigos”. Ora, até que enfim os merecidos aplausos. Beatriz Roberta da Silva, que não gosta de generalizar, destaca que o dela é um ponto de vista pessoal: “Você é um bom autor para mim”. Nadi, que não colocou o sobrenome, já foi mais passional: “Adorei o seu texto! Superlegal!” Mas o julgamento definitivo veio de Lucas Geovane Silva Nogueira, que não hesitou na hora de decretar: “Você é um grande autor”.

Nem todos ficaram no elogio rasgado. Alguns, talvez intuindo os dissabores da vida literária, sentiram-se na obrigação de me incentivar. Victor Bergamasco de Sousa mostrou-se jovial: “Eu gostei muito de seus textos, tomara que você crie mais. Miguel, nunca vi um cara que nem você, tão criativo”. Já Flávio Sousa Florentino de Oliveira comprometeu-se em ser meu leitor fiel: “Se você for escrever [mais], eu adoraria ler”.

No dia em que recebi estas cartas, andava meio triste pelos velhos problemas de saúde. E Naiara Janaína Alves foi na veia: “Como vai a saúde? Espero que esteja bem”. Lucas Ricardo Silva Castro também se mostrou sensível: “espero que esta carta te anime”. Mudei na hora o meu humor.

Há também leitores mais introspectivos, que não sabem o que dizer, não querem elogiar e caem num tom confessional. Rayane Pessoa de Lima não falou de minha literatura, talvez inibida: “Bom, não tenho muito que dizer, mas meus amigos e eu queremos conhecer o senhor”. Vanessa Carolina dos Anjos Santos estava mais solta: “Miguel, eu queria muito te conhecer, pois você deve ser muito legal”. Por aí se vê que sou mesmo um bom fingidor.

Matheus Madalena desconfiou que eu não fosse ler sua correspondência e externou esta preocupação: “Espero que você leia a carta toda”. Matheus, eu li sim, e ela não era tão longa que me assustasse. Você não sabe o que tenho que ler nesta profissão.

Vários desejaram estreitar os laços de amizade. Rayane Vignoli deu os motivos de sua tentativa de correspondência: “Estou mandando esta carta para ficarmos amigos. Tenho poucas palavras, mas gostaria muuuuuito de virar sua amiga”. Se Rayane é lânguida, Katiane da Silva foi impositiva e despachada: “Eu não te conheço, mas eu te admiro muito e quero que você responda minha carta”. Como não responder?

A curiosidade pelo autor também se manifesta nestes momentos. “Quantos anos você tem?” – perguntou Rafael William de Jesus. Menos direto, Luan Lucas Santos da Silva começou com cuidado: “Espero que eu esteja escrevendo em um bom momento”. Depois vem um parágrafo em que se espanta com as qualidades deste escriba: “Miguel, não sei como você conseguiu escrever aqueles textos, mas sei que gostei muito, eu e minha família”. No final da carta, a falta de modéstia trai Luan: “Sou muito inteligente”, ele afirma. E pede: “Mande uma foto tua para eu te conhecer”.

A vantagem de ter uma família grande é que estamos sempre nos cruzando. Veja como um de meus novos interlocutores se dirigiu ao provável parente: “Senhor Miguel, quem está mandando esta carta é o Matheus Rodolfo Sanches. O senhor tem o mesmo sobrenome meu. E Neto é o apelido de meu primo”. Mas meu parentesco não é apenas com Matheus, e sim com todos os 29 leitores que me escreveram.

São alunos da 4.ª Série do Ensino Fundamental da Escola Municipal Halim Atique, em São José do Rio Preto, São Paulo. Também estudei em escola pública, onde me iniciei na leitura e no conhecimento do mundo.

Alunos da professora Graça Resende, eles leram o meu Estatutos de um novo mundo para as crianças (Bertrand Brasil, 2005) e, depois de terem explorado várias temáticas relacionadas ao texto, fizeram uma música e escreveram estas cartas. Mandaram o pacote para a editora e tudo chegou às minhas mãos. São cartas recentes, de final de junho, que exigiam mais do que uma resposta, exigiam ser registradas neste espaço.

Meu livro nasceu numa circunstância particular. José Carlos Fernandes, jornalista desta Gazeta do Povo, encomendou um texto para uma edição especial da “Gazetinha”, por ocasião do dia das crianças. Fiz uns estatutos poéticos e alegres, que saíram primeiro nas páginas do jornal. O texto ficou esquecido nas profundezas de meu computador até eu receber o convite generoso de Rosemary Alves, da Bertrand, para participar de uma coleção infanto-juvenil. O título final foi sugerido pela Rose e o livrinho, ilustrado por Raul Fernandes, ganhou vida autônoma e está aí apresentando aos leitores o ofício da linguagem.

Vou terminar esta crônica com as palavras de Hyago dos Santos Alves, dirigindo-as a todos estes leitores-mirins: “Eu já vou indo. Quem sabe nos vemos em outra história”.

Fonte: Gazeta do Povo, 15 de julho de 2006.


Sobre o Autor

Miguel Sanches Neto: Escritor paranaense e crítico literário, assinando coluna semanal no maior diário do Paraná, a Gazeta Povo (Curitiba), tendo publicado só neste jornal mais de 350 artigos sobre literatura, fora as contribuições para outros veículos, como República e Bravo!, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo) e Poesia Sempre e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro).

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